A força da fé
Em muitos momentos da vida, somos convidados a nos apoiar em algo que vá além das aparências do mundo material. Quando tudo parece desabar ao nosso redor — quando perdemos um ente querido, enfrentamos uma enfermidade, uma traição ou a escassez —, é natural que o coração busque um ponto de sustentação que transcenda a lógica imediata.
A fé, nesse contexto, surge como a âncora da alma em meio às tempestades. Mas é preciso que essa fé seja sólida, lúcida, firme: a fé raciocinada, como ensina a Doutrina Espírita.
Ao contrário do que muitos pensam, fé e razão não se opõem. Pelo contrário, uma fé cega, que não pensa, não pergunta, não investiga, é frágil e se desfaz diante da primeira dúvida ou do primeiro revés.
Já a fé raciocinada, que se apoia no estudo, na lógica, na compreensão espiritual da vida, cresce com os desafios e não se abala com as dificuldades. O conhecimento esclarece a crença, e a crença alimenta a esperança.
A fé espírita nasce do entendimento de que Deus é justiça e bondade perfeitas, que a vida continua após a morte, e que cada ser está em permanente processo de evolução. Ela não é um salto no escuro, mas uma construção que se ergue dia após dia, na vivência do bem, na observação da Lei Divina, no exercício da paciência e da caridade. Com essa base sólida, a fé torna-se uma força moral capaz de resistir às mais duras provas.
Há uma diferença crucial entre dizer “eu acredito” e dizer “eu compreendo e confio”. Quem apenas acredita, muitas vezes, desanima quando a dor chega. Quem compreende e confia, ainda que chore, permanece firme. É essa fé ativa, que se traduz em atitudes e escolhas, que transforma corações e vidas.
Quantos casos se conhecem de pessoas que, diante de tragédias, se revoltam e sucumbem, enquanto outras, na mesma situação, encontram forças para se reerguer, consolar, reconstruir e seguir adiante? A diferença está na fé que possuem — ou não possuem. E é justamente isso que o Espiritismo propõe: não uma fé mística ou milagrosa, mas uma fé baseada na razão, alimentada pelo estudo, pela vivência, pela observação dos fatos e pelo exercício do amor.
Allan Kardec, no capítulo XIX de O Evangelho Segundo o Espiritismo, afirma que “a fé é humana e divina ao mesmo tempo. Se todos os encarnados se achassem bem convencidos da força que em si possuem, e se quisessem pôr a vontade a serviço dessa força, seriam capazes de realizar os chamados milagres.” Isso significa que a fé verdadeira é ativa, operante, transforma o ser e influencia positivamente o ambiente em que ele vive.
Ter fé raciocinada é compreender que nenhuma lágrima é inútil, nenhum sofrimento é vão. É perceber que os aparentes fracassos podem ser degraus para conquistas maiores. É confiar, mesmo sem entender tudo. É entregar-se a Deus, não por resignação passiva, mas por saber que Ele nos conduz com amor e sabedoria.
Em um mundo ainda marcado por tanto materialismo e superficialidade, a fé raciocinada é um farol. Ela não aliena, não aprisiona, não limita. Ao contrário, liberta, esclarece, fortalece. E quando aliada ao amor e à prática do bem, torna-se um poder transformador. Não se trata de esperar por milagres do céu, mas de se tornar, cada um de nós, um canal de milagres — aqueles que nascem do esforço pessoal, da mudança íntima e da confiança inabalável no bem.
Sidney Fernandes