BEM-AVENTURADOS OS POBRES DE ESPÍRITO
Sidney Fernandes
Jesus tinha motivos muito sérios para iniciar o Sermão da Montanha com a humildade. O instinto de preservação, que defendeu o homem na animalidade, está ainda impregnado em seu espírito. Daí decorre que, pessoas que se esforçam para manter a humildade ou têm natureza tímida, podem vir a ser massacradas, ora por colegas e amigos, depois pelos concorrentes profissionais, mais além por familiares e depois por toda a sociedade. Em alguns pode surgir uma espécie de carapaça protetora. E então o outrora perseguido ou vítima vira opressor.
É o sofrimento, e só o sofrimento, que abre no homem a compreensão interior, já afirmava Gandhi.
Há, portanto, os que não conseguem cultivar a humildade por autodefesa ou por desconhecerem os estragos que provocam.
— Sou simples, humilde, afirmam alguns com convicção. No entanto, ainda não conseguem parar e refletir sobre a própria conduta. E continuam sofrendo, por fazer sofrer.
Como cultivar a humildade numa sociedade agressiva e egoísta? Conviver pacificamente, sem se expor à maldade alheia, requer exame constante de nossos procedimentos para identificação de seus aspectos negativos e o que podemos fazer para superá-los.
— Sob o pretexto de defender nossas ideias, não podemos ser os “donos da verdade”, deixando de admitir os próprios erros;
— Vangloriar-se, presumir-se superior e diminuir o interlocutor são atitudes que envenenam um relacionamento;
— Podemos perfeitamente demonstrar nossa capacidade e revelar nossos talentos. Não significa que devamos manipular, fugir da responsabilidade, menosprezar o concorrente ou monopolizar as oportunidades;
— O mercado atual valoriza o pragmático e o versátil. No entanto, o bom profissional deve vacinar-se contra o melindre, a exagerada preocupação consigo mesmo, o vocabulário pedante e a obstinação em rever seus procedimentos. A reciclagem constante é exigência do progresso.
É possível progredir e fazer sucesso sem ostentação ou deslealdade. A palavra-chave é assertividade: agir e verbalizar, ainda que com firmeza, sem agressividade.
Geralmente, não é o que fazemos que ofende. É o modo como fazemos!
À injusta acusação dos escribas — “Ele blasfema!” — Jesus teve alguma resposta agressiva? Ao contrário. Respondeu docemente: “Por que pensais mal em vossos corações?”.
Diante da incredulidade dos discípulos, Jesus indagou: “Por que temeis, homens de pouca fé?” Algum sinal de prepotência?
Suas reações sempre foram maduras, educadas e assertivas.
Simples! Como deve ser o nosso espírito.