Rumo à Luz
Sidney Fernandes
O que é a morte? Um salto às escuras? Muralha de dúvidas? Barreira intransponível à comunicação? Ou um breve intervalo entre existências que se interligam?
Ainda estamos condicionados à atmosfera de sombras e lágrimas que herdamos de priscas eras, sempre considerando ser essa ocorrência natural a pior desgraça para a criatura humana.
A morte, desde que não seja antecipada em processo de fuga, deveria ser encarada de forma mais suave, visto que faz parte natural da vida e de suas sucessões. Além disso, em um futuro próximo, a comunicação com nossos entes queridos se tornará tão simples e natural que poderemos continuar nossos relacionamentos da mesma forma como fazíamos enquanto estavam encarnados.
O que Paulo, o apóstolo, quis dizer com a expressão “Para mim viver é Cristo e morrer é lucro”? Revelou que se nos prepararmos para a morte, adequadamente, no transcorrer da vida, ela se tornará verdadeira libertação.
O que significa “preparar-se para a morte”?
Significa aproveitar o tempo para o aprendizado intelectual e para a sublimação dos sentimentos, isto é, cuidar da linearidade entre as asas do conhecimento e do amor, para não girarmos em círculos, sem ir a lugar algum.
A primeira asa é a do desenvolvimento da inteligência, com a qual alimentaremos os potenciais criadores que revelam o porquê e a finalidade da vida. A outra asa é a do desenvolvimento moral, que ausculta, em nossas riquezas íntimas, o que efetivamente Deus espera de nós. Ele generosamente nos enviou Jesus, que ofereceu a cartilha do amor divino, verdadeiro GPS com que podemos caminhar com segurança pelos caminhos traçados pela Divindade.
O céu e o inferno começam dentro de nós. Já morremos e remorremos muitas vezes. Mesmo assim, ainda não detectamos o que mais empolga nosso espírito. Ao sugerir que nos conheçamos a nós mesmos, Santo Agostinho estava propondo que devemos nos desfazer, de uma vez por todas, da túnica que vimos portando por várias vidas, carregada de pensamentos infelizes. Não passou da hora de nos livrarmos dos perniciosos reflexos condicionados que ainda conduzem nossas ações pelos mesmos caminhos de outrora?
Sacudindo essa famigerada túnica, perguntaremos a nós mesmos:
— Afinal! Além de Deus, quem manda em meu destino? Os velhos hábitos, o homem velho que persiste em morar no meu interior, a fera agressiva que não sai do meu peito?
Num dos raros momentos de lucidez do espírito, respirando a longos haustos e criando coragem, será o momento de dizermos:
— A partir de agora, o bem norteará o meu coração, de forma que um dia, como Paulo, eu possa afirmar que não serão mais os velhos hábitos que me dirigirão e sim o Cristo que vive em mim! E direi, como Paulo de Tarso: “Para mim viver é Cristo e morrer é lucro”.