SEMEADURA E COLHEITA
Sidney Fernandes
O destino de Mike Dorsey, um detetive que cometeu um assassinato movido por vingança, levanta questões sobre a justiça celestial e as consequências das ações humanas após a morte.
A morte, em diversas tradições espirituais, não representa o fim, mas uma transição, e a forma como a alma lida com essa passagem depende de suas atitudes ao longo da vida. Ela não é vista como um término absoluto, e sim como um ponto de passagem para um novo plano ou uma reencarnação, conforme as crenças de cada corrente.
Na teologia clássica, a justiça divina é implacável: quem comete pecado mortal está condenado à punição eterna. Nesse sentido, a morte de Mike, ao matar um homem em um impulso de frustração, seria interpretada como uma condenação definitiva ao sofrimento eterno, sem chance de redenção. O tribunal do Alto seria representado como algo absoluto e imutável, sem espaço para arrependimento ou reforma.
Em contraste, algumas correntes místicas contemporâneas oferecem uma abordagem mais flexível da salvação, sugerindo que ações externas, como doações ou rituais, podem garanti-la. Nesse caso, a graça divina poderia ser adquirida ou intermediada por terceiros. Caso Mike tivesse pertencido a uma dessas religiões, talvez pudesse ter “comprado” sua entrada para o céu com rituais ou compensações materiais. Contudo, essa perspectiva levanta uma questão ética importante: seria justo que a salvação dependesse de atos exteriores, sem considerar a transformação moral do indivíduo?
Essa visão superficial de salvação coloca a justiça como uma transação, enquanto a verdadeira lei divina deve ser vista como um processo de evolução espiritual contínua.
A salvação não seria um prêmio por ações materiais, mas um reflexo do crescimento interior, onde a alma é desafiada a reconhecer seus próprios erros e buscar a transformação. Assim, a justiça divina seria educativa, não punitiva. Segundo essa visão, ela visa promover a evolução moral do ser, reconhecendo a necessidade de um crescimento interior profundo.
A Doutrina Espírita reforça que a equidade superior não é punitiva, mas educativa, voltada para a evolução contínua do espírito. A verdadeira transformação não vem de compensações externas, mas da conscientização das próprias ações e do desejo sincero de mudança.
A vida é uma oportunidade contínua de aprendizado, e a morte é apenas uma etapa dessa jornada espiritual. A salvação não reside no cumprimento de rituais, mas na reflexão e na renovação interior, em harmonia com os princípios de justiça e progresso moral.