MABEL
Sidney Fernandes
Ridicularizados, atacados, perseguidos ou dilacerados, evitemos o mal, mesmo quando o mal assuma a feição de defesa, porque todo mal que fizermos aos outros é mal a nós mesmos.
Emmanuel
Mabel sempre foi um exemplo de mansuetude. Bem preparada para o renascimento, sempre teve boa índole, coração generoso e consciência da imperiosa necessidade de autoaprimoramento. Situava-se como merecedora dos investimentos da espiritualidade em sua nova existência. Contou com rigorosa educação
dos pais, sempre foi receptiva às orientações religiosas na infância e simpática às ideias espíritas na adolescência. No limiar da puberdade, passou a empenhar-se no estudo filosófico, na prática da caridade e na superação de antigas falhas, em busca de vivência digna das expectativas espirituais.
Ah, mas a vida não é fácil. A vitória sobre nossas más tendências não é tarefa para pouco tempo. Quando surgem as decepções, as agressões de espíritos imaturos, que se aproveitam da nossa docilidade para impor suas vontades, e as ofensas, é preciso ter muita fé, reflexão e tenacidade, para se manter equilibrado.
Diante das injustiças e das agressividades, Mabel tentava se defender, evitando o mal. Mas, a natural reação do espírito é sempre devolver na mesma moeda o prejuízo sofrido, e cria-se assim um círculo vicioso entre criaturas do mesmo nível: ora vítimas, ora verdugos. Felizmente, o hábito da oração e a mansuetude de seu coração prevaleceram. Alma nobre, procurou imprimir em suas atitudes a grandiosidade que sonhava solidificar em seu coração. Orou com toda sinceridade, atraiu benfeitores espirituais, que acalmaram o seu espírito.
Sua resignação e a prevalência de sua força moral poderiam lembrar as imortais palavras de Maria:
Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim segundo a tua palavra. Lucas 1:38
Vencendo o bom senso, restabeleceu-se o equilíbrio. Mabel, se afastou de seus detratores, deixando que seguissem seu caminho, não cogitando de vingança, perdoando-os incondicionalmente. Eles que se entendessem com a justiça divina. Mas, e os faltosos, os maledicentes, os caluniadores, os ofensores, os invigilantes, os agressivos e os venenosos injuriadores? Foram perdoados por Mabel e, portanto, libertos?
Ledo engano. O mal que provocamos nos outros torna-se nosso companheiro de vida, envolvendo, com seus reflexos, a nossa consciência. Podemos até ser perdoados. Perdoados, mas não limpos, afirma Emmanuel.
A lei sempre é cumprida. Daí Jesus asseverar, no Sermão da Montanha, não apenas a obrigação de perdoar, mas também de nos mantermos mansos, confiando na justiça divina. Que a mansuetude e a vitória de Mabel sobre as más inclinações sirvam de modelo e estímulo às nossas realizações espirituais.
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