OS EVANGELHOS
Sidney Fernandes
Os Evangelhos representam a principal fonte de informação sobre a vida e os ensinamentos de Jesus. Contudo, ao analisar sua origem, surgem questionamentos sobre como seus sermões e parábolas foram preservados e transmitidos através dos séculos.
Nos primeiros séculos do Cristianismo, diferentes grupos interpretavam os ensinamentos de Jesus de formas variadas. Para unificar a doutrina, líderes religiosos selecionaram quais textos fariam parte do cânon oficial, excluindo outros que não se alinhavam com a visão predominante, que passaram a ser chamados de Evangelhos Apócrifos, ou seja, com significados ocultos ou secretos, com narrativas e ensinamentos alternativos sobre Jesus.
Durante o pontificado do Papa Dâmaso I (366-384 d.C.), a Igreja buscou organizar os textos cristãos, consolidando os Evangelhos Canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João, através do extraordinário trabalho realizado pelo culto e sábio São Jerônimo, que os formulou no latim popular, acessível à cultura do povo daquela época.
A tradição oral judaica desempenhou um papel essencial na transmissão dos ensinamentos de Jesus. Sem gravações ou registros escritos imediatos, seus discursos foram memorizados e repetidos por seus seguidores. Jesus usava parábolas e mensagens curtas, fáceis de assimilar, garantindo que sua mensagem fosse preservada de geração em geração. Além disso, a convivência próxima entre Jesus e seus discípulos permitiu que suas palavras fossem registradas com fidelidade ao longo do tempo.
A autenticidade dos Evangelhos, no entanto, ainda gera debates. Alguns estudiosos defendem que os textos passaram por modificações ao longo dos séculos, refletindo interesses teológicos das primeiras comunidades cristãs. Já outros argumentam que, mesmo com possíveis adaptações, a essência do ensinamento de Jesus foi mantida.
A diversidade de estilos e enfoques demonstra que os Evangelhos são mais do que simples biografias. São testemunhos espirituais que buscam transmitir a essência dos ensinamentos do Cristo.
Para o Espiritismo, essas discussões são irrelevantes e estéreis. No Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, vamos encontrar tão somente a moral da mensagem de Jesus. O Codificador tomou o devido cuidado de evitar textos controversos, que poderiam gerar discussões ou conflitos de interpretação.
O que realmente importa para os espíritas é a inatacável ética dos ensinamentos de Jesus, que não pode ser contestada e representa pensamento universal, contido, também, em muitas outras obras históricas, ainda que não cristãs.
A partir do momento em que venhamos assimilar a extraordinária mensagem do Cristo, sintetizada na tolerância, na paciência, no altruísmo e na empatia contidas no Sermão da Montanha, não mais será relevante de que forma os Evangelhos chegaram até nossos dias, pois a verdadeira essência da mensagem cristã é que realmente interessa para o crescimento espiritual.