Resumo
Todas as religiões e filosofias são unânimes no combate às causas do suicídio. Elas são inúmeras. Podem se originar de vidas passadas — nos casos de suicídios em série —, de tendências inatas à depressão, desilusões amorosas, desemprego, machismo estrutural ou altos níveis de exigência social. Este texto tem o objetivo de prevenir e orientar, em busca da saúde mental e espiritual, que podem ser proporcionadas pela ciência e pela religião, na busca de uma vacina contra o suicídio. O Espiritismo nos prepara para enfrentar esse desafio.
Palavras-chave
Suicídio. Valorização da vida. Causas. Prevenção.
Mais mortal do que a pandemia
O que foi mais grave do que a pandemia? O número de suicídios! O Japão não teve lockdowns rígidos e registrou, relativamente, poucas mortes pelo coronavírus SARS-Cov-2. Infelizmente, o total de suicídios de homens e mulheres foi superior ao dos casos fatais pela Covid 19. Em um único mês, enquanto a pandemia matou 2087 pessoas, 2199 se suicidaram, caracterizando a primeira alta em 11 anos. Ao todo, foram registrados 21 mil suicídios, sendo as mulheres e estudantes as principais vítimas.
Preocupado com o impacto direto da pandemia na saúde mental da população, o governo japonês criou o Ministério da Solidão, que passou a criar campanhas e políticas públicas voltadas à prevenção do suicídio. O órgão também cuida das pessoas que vivem sozinhas, desempregadas e vulneráveis a abusos e assédios sexuais, principalmente de pais e irmãos que, desempregados, passaram a ficar mais em casa.
Comportamento de imitação
Especialistas na prevenção de suicídios afirmam existir uma conexão muito forte entre as mortes provocadas por celebridades e o aumento imediato, durante cerca de dez dias, de suicídios de pessoas da mesma faixa etária. Algo semelhante à emulação de transtornos emocionais provocados pela publicação do livro Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, em 1774. O mesmo ocorreu com o personagem da ópera A flauta mágica, de Mozart. Quanto mais se fala de uma celebridade que se matou, maiores são as brechas que se abrem nos flancos emocionais e espirituais, de que se valem velhos parceiros de experiências comprometedoras, para situar pessoas no caminho do suicídio.
Causas do Suicídio – O Livro dos Espíritos
Na Introdução de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec relaciona algumas das causas mais frequentes, em sua época, para o suicídio: decepções, infortúnios e afeições contrariadas. Nos tempos atuais, acrescentaríamos os transtornos mentais e psicológicos, que abrangem a depressão, o transtorno bipolar, a esquizofrenia, o alcoolismo e as drogas. Não que estas causas não existissem no século XIX. Existiam, porém não eram facilmente diagnosticáveis. Atentar contra a própria vida é atitude execrada por todas as religiões e filosofias. O Espiritismo trata do assunto de forma ampla e objetiva, abrangendo suas causas e consequências.
Quem lê o livro Memórias de um suicida, de Camilo Castelo Branco, escrito por meio da extraordinária mediunidade de Yvonne A. Pereira, toma conhecimento do que aguarda o suicida, além desta vida. Se pensar um pouco, esse leitor jamais cogitará dessa tragédia moral. O problema maior, todavia, é que, quem vence o instinto de conservação, e se mata, não mais cogita da razão e por isso jamais levará em conta as consequências de seu gesto tresloucado.
Vacina
Quem efetivamente estuda e vivencia os princípios espíritas passa a ver esta vida de ponto de vista diverso dos indiferentes a qualquer perquirição filosófico-religiosa, em busca da compreensão do ser humano.
As adversidades passam a ser consideradas como eventos normais de uma viagem de expiações e provas, como é a nossa encarnação, e as dificuldades passam a ser consideradas como fatores de crescimento, na oportunidade evolutiva que recebemos.
Enfim, para quem leva o Espiritismo a sério, os obstáculos deixam de provocar violentas emoções, e passam a afetá-lo de forma absolutamente natural. Essas convicções proporcionam a resignação, que previne estados emocionais exacerbados, como verdadeira vacina contra o desequilíbrio e o suicídio.
Pesquisadores buscam o motivo do aumento de casos de suicídio em países considerados desenvolvidos. Talvez a resposta esteja na questão 943, de O Livro dos Espíritos¸ quando os mentores atribuem o desgosto da vida à ociosidade, à saciedade e à falta de fé em que se veem envolvidos certos indivíduos, sem motivos plausíveis. Quase a seguir, na questão 945, os espíritos são bastante incisivos ao afirmar que falta atividade útil a quem pensa em suicídio.
Alarmes da espiritualidade
Não estamos sós na adoção de benditas medidas profiláticas de prevenção e de salvação. Deus jamais desampara seus filhos. Quando alguém começa a colocar minhocas suicidas em sua cachola, disparam alarmes na espiritualidade, com efetivas medidas de contenção, para que se evite o gesto infeliz, a fim de que a transgressão da lei divina não lhe provoque coisa pior.
Daí a necessidade de cultivarmos uma religião, que, além de nos proporcionar emulação ao espírito de serviço, remete-nos à confiança em Deus. Com isso, atraímos a proteção de benfeitores espirituais, que afastam os pensamentos negativos de entidades infelizes que se aproximam do candidato ao suicídio.
É bom lembrar que os protetores não fazem milagres e precisam contar com nossa participação, quando nos empolgamos com a desvairada suposição de que seria melhor morrer. Nossa sintonia precisa estar afinada com eles, para que estejamos permeáveis à ajuda espiritual.
Alguns religiosos costumam atribuir ao suposto diabo o impulso de que criaturas fragilizadas são objeto para perpetrar o gesto do suicídio. Embora saibamos da inexistência de criaturas criadas ou eternamente devotadas ao mal, pois todos estamos sujeitos ao determinismo evolutivo e, mais dia, menos dia, teremos que retomar nossa jornada em direção ao bem, a metáfora é válida. Infelizmente, existem obsessores que, iludidos com a ideia de vingança, tornam-se verdadeiros demônios a atormentar nossas vidas.
O bote
Narra Richard Simonetti, no livro Encontros e desencontros, a história de Ifigênio, que treinava sua vocação de obsessor, assediando Miguel. Buscava envolvê-lo com sentimentos negativos para instalar em sua mente a ideia do suicídio. O perseguidor sabia que o gesto provocaria sofrimentos inenarráveis em sua vítima. Mas, era exatamente o que desejava, para vingar-se de males pretéritos.
Suas ações não estavam surtindo efeito. Miguel não abria brechas que permitissem o assédio. Vida profissional inatacável, modelo de virtude, cuidados com a saúde e sintonia com o bem. Ifigênio resolveu aguardar pacientemente o momento adequado para desferir o bote, que poderia surgir com impulso passional ligado aos seus interesses.
Infelizmente essa situação apareceu. Um acontecimento que afetou Miguel com a profundidade desejada e o deixou irritado e agressivo. Grande mágoa que mexeu com seu coração, que parecia arrebentar de dor. Um momento intolerável e inadmissível.
Ifigênio aproveitou o momento e passou a lhe transmitir macabra sugestão:
— Melhor morrer! Melhor morrer!
Pego desprevenido, Miguel comprou a ideia do obsessor e, num ímpeto, atirou-se de grande altura e regressou ao plano espiritual, enquadrado no lamentável crime do suicídio. No bilhete lacônico aos familiares, a explicação: não suportara ver seu time de futebol derrotado em partida decisiva do campeonato.
Adverte Simonetti que o suicídio é uma decisão infeliz que pode corporificar-se de mansinho, em indefinível melancolia, ou barulhenta e incisiva, como drástica solução para acontecimentos desagradáveis.
Embora não exista o diabo, como anjo dedicado eternamente ao mal, a decisão para o suicídio pode ser alimentada pela influência de obsessores vingativos.
O Espiritismo é a vacina infalível contra o terrível vírus do autoaniquilamento. Quando nos prevenimos contra as más sugestões que inflam nossas tentações, ideias malucas são imediatamente repelidas, impedindo que cogitemos desse assunto infeliz, não permitindo que semelhante loucura invada nossa casa mental.
Suicídio de um homem bom
E quando o candidato ao suicídio é um homem bom e caridoso, que entende — erroneamente — que sua morte irá beneficiar outras pessoas? Qual será o entendimento da espiritualidade diante dessa dúbia conduta? De um lado, a generosidade de um homem benigno; do outro, a transgressão de uma norma divina, a de preservação da vida. Como ficamos?
O filme A felicidade não se compra, dirigido por Frank Capra em 1946, narra a história de George Bailey, protagonizada por James Stewart. O personagem era um homem bom e honesto, que durante toda a sua vida ajudou muitas pessoas, renunciando a realizar seus sonhos. Estava em apuros, provocados pelo seu tio Billy, que perdera grande quantia de dinheiro da empresa dirigida por George, indevidamente apropriado por empresário inescrupuloso. Resolveu se matar, para que seu seguro de vida cobrisse o rombo financeiro provocado pelo tio.
Ocorre que as orações das pessoas auxiliadas por George chegaram à espiritualidade, que, imediatamente, mandou o espírito Clarence para demovê-lo da ideia do suicídio. Clarence iria tentar convencê-lo de que a vida era mais importante do que a sua morte e da importância que havia tido na vida das pessoas. Como seu protegido estava prestes a se atirar num rio, o anjo protetor materializou-se, atirou-se nas águas e começou a gritar por socorro. E seu plano deu certo. Imediatamente, como era do seu feitio, George esqueceu completamente de si mesmo, tirou o paletó e atirou-se para salvá-lo. E a partir daí começou a missão de Clarence.
— Seria muito melhor que eu não tivesse nascido — disse, desolado, George.
A partir dessa frase, Clarence teve a brilhante ideia, sem querer sugerida pelo próprio protagonista, de criar exatamente uma hipotética situação.
George nunca existira
George Bailey nunca teria nascido e jamais existira. Em seguida, em forma de flashbacks, George começa a repassar toda a sua vida.
Como, supostamente, George nunca teria nascido, na infância não salvou seu irmão Harry de um acidente no gelo. Com isso o irmão não pôde salvar centenas de pessoas de um navio, durante a guerra. Como não existira, também não evitou que um farmacêutico envenenasse inadvertidamente uma criança e, por isso, o profissional foi para a prisão e se tornou um mendigo.
E muitas outras cenas vão se seguindo, mostrando como a vida de George Bailey havia sido frutífera e significativa para um grande número de pessoas. Ao constatar essa realidade, percebeu a sua importância e ensaiou uma oração, pedindo a Deus que lhe mostrasse um caminho, uma luz, uma solução para o problemão que estava enfrentando. Correu de volta para a ponte e rezou para voltar a viver. Deus o ajudaria a safar-se daquela situação difícil.
Filme imita realidade que a Doutrina Espírita ensina
A ficção de Frank Capra, com o tocante e inesquecível filme A felicidade não se compra, está muito próxima da realidade que a Doutrina Espírita nos ensina. Quando confiamos em Deus e nos aproximamos do bem, jamais nos falta a proteção da espiritualidade. Quem se dedica e se sacrifica em favor do semelhante é objeto de atenção especial da divindade. O personagem que descrevemos foi envolvido por forças sublimes, na figura de um enviado angelical, para que desse à sua vida o rumo que merecia, tendo em conta seus altos méritos e a nobreza de caráter de que se revestia.
Da mesma forma, devemos escolher nossas companhias espirituais, cultivando bons pensamentos e boas atitudes, para que, nos momentos de dificuldades e de instabilidade, sejamos aquinhoados, assim como o foi George Bailey, com a presença do nosso protetor espiritual, para que não nos falte o equilíbrio e não nos ocorra coisa pior.
Algoritmo da vida
Os esforços dos nossos anjos guardiães acabam de ganhar um novo e precioso aliado: o Algoritmo da Vida. Um projeto sem precedentes, assinado pela Rolling Stone Brasil, veículo voltado à cultura pop, principalmente à música, em cujo campo lida diariamente com alarmantes sintomas de depressão, que abreviam de forma precoce a vida de muitos de seus músicos e seguidores.
A ferramenta Algoritmo da Vida identifica a recorrência de termos constantes da gramática de expressão e encontra perfis de potenciais candidatos ao suicídio. Com a conversa, formas de tratamento adequadas e auxílio de psiquiatras, a Rolling Stone Brasil já detectou quase trezentas mil menções que sugeriram a linguagem da depressão.
Depressão: mola propulsora
A principal mola propulsora para o suicídio, no século atual, chama-se depressão. No começo, insidiosamente, surgem alguns pensamentos inofensivos em nossa cabeça.
Quando o fardo da vida começa a ficar pesado, brota-nos a falsa ideia de que a vida espiritual é melhor do que a física. Talvez morrer fosse melhor. A seguir, já que o destino não se resolve, predispomo-nos a dar-lhe um incentivo, uma espécie de mãozinha em direção ao que julgamos ser o alívio para as nossas dores.
A partir daí — e para essa fase caminham mais de vinte por cento dos que pensaram no assunto —, perigosamente, o candidato ao suicídio assume que é melhor morrer mesmo e começa a pensar no meio menos doloroso para perpetrar seu intento. Infelizmente, cerca de seis por cento dessa pequena população consuma o gesto infeliz.
Ignoram esses atormentados irmãos que somos seres imortais, e que o máximo que conseguiriam seria desprender-se do corpo material e que, em seguida, tomariam consciência de sua grave situação, na espiritualidade, com o desencantamento dos que se frustram por não alcançar seus objetivos.
Daí o alerta de que devemos tratar do corpo e do espírito, pois, além das causas físicas, existem as psicológicas e as de pressão magnética, oriundas de irmãos infelizes do mundo espiritual.
Muitos discordam dessa tese, alegando que são meras especulações filosóficas, mesmo porque, até onde se lembram, jamais fizeram mal a qualquer pessoa. Como, portanto, poderiam ser objetos dessa insólita perseguição? Desconhecem, ou esquecem, esses irmãos, que, se não encontramos na vida atual a causa de nossos sofrimentos, fatalmente deveremos procurá-la em vidas anteriores.
Justiça e misericórdia de Deus
Se acreditamos num Deus justo, temos que admitir que os efeitos que hoje sofremos devem ter, necessariamente, uma causa. E se a causa não está no presente, deve estar no passado de nossa jornada espiritual.
Revistamo-nos da fé que conecta as forças que sustentam a vida e inflamemos novamente a chama extraordinária que existe em nosso peito. Com certeza, os momentos difíceis e nublados vão passar e o sol divino voltará a brilhar em nossas vidas. Busquemos ajuda na força do bem e na confiança em Deus e, com certeza, seremos amparados.