Artigos Espíritas

A mensagem do espiritismo para uma vida melhor

Sidney contribui para diversos órgãos da imprensa espírita e laica, produzindo artigos para reflexões oportunas em todas as épocas. Todos os artigos estão disponíveis nesta seção para você compartilhar em suas redes sociais ou, no caso de jornais e boletins espíritas, utilizar livremente em suas publicações, com a gentileza de citar o crédito do autor.

Boa leitura! E que a mensagem espírita chegue cada vez mais longe!

Asas da felicidade

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Resumo

Não obstante os incontestáveis progressos alcançados pela humanidade nos últimos séculos, ainda estamos distantes do nivelamento entre as asas do intelecto e da espiritualidade. Este texto tem por objetivo o despertamento para o amai-vos e para o instruí-vos. De nada adiantam os grandes planejamentos e teorizações, se não houver a devida correspondência da prática e da aplicação.

Palavras-chave

Espíritas! Amai-vos e instruí-vos. Predomínio da intelectualidade. Caminho para a espiritualização. Asas da evolução.

 

Primeiras ponderações

O que viemos fazer neste mundo? Qual é a finalidade da existência humana?

Representantes de ordens filosóficas e religiosas responderão essas perguntas, cada um de per si, com elementos de suas crenças e convicções. Espíritas possivelmente dirão que estamos aqui para pagar dívidas do passado e para nos reconciliarmos com supostos adversários.

Para cá viemos para pagar dívidas e superar divergências? A encarnação pode ser comparada a uma lixa grossa que desbasta arestas e mazelas. André Luiz1 chama-a de carvão milagroso capaz de absorver as máculas tóxicas e sombrias que portam os corpos perispirituais de espíritos endividados. Além disso, a convivência com desafetos, dentro da família ou fora dela, pode resultar em reaproximação, depois de tempos de intriga e divergência.

No entanto, devemos ir além dessas explicações. A principal finalidade da existência humana é a evolução. Espíritos recebem novos corpos, condições familiares e profissionais, localizações adequadas, preparativos físicos e psíquicos, tudo de acordo com detalhado e minucioso planejamento desenvolvido por arquitetos de especializado instituto reencarnatório, com vistas ao aperfeiçoamento do ciclo evolutivo e o crescimento de potencialidades. Acima de tudo, reencarnamos para evoluir, a fim de retornar à vida verdadeira em melhores condições do que as que tínhamos quando aqui chegamos.

Cérebro ou coração?

De que forma os protagonistas desses projetos contribuirão com os elevados mentores do progresso? Cuidando do cérebro ou do coração? Buscando o progresso intelectivo ou o do sentimento?

Enseja-nos a Doutrina Espírita o basilar ensinamento de que a decolagem da alma rumo à jornada evolutiva dependerá de duas asas: a intelectual e a moral.

O conhecimento intelectual caracteriza-se pela aquisição da cultura da vida, do universo e da missão dos homens, na assimilação de novos conceitos, na exata medida da ampliação de seus horizontes.

O conhecimento moral caracteriza-se pelo despertamento do sentimento, na exata medida em que o compartilhamento dos talentos, das potencialidades e dos dons de cada indivíduo deixa de representar interesse ou obrigação, para se realizar no bem-estar de seu semelhante, em processo de empatia concretizada pela generosidade.

Jamais o homem se identificará com os ideais divinos sem desenvolver as asas do cérebro e do coração, que o colocarão na rota rumo à perfeição. Essas asas precisam se desenvolver simultaneamente. A decolagem já começou? Almas insipientes, mais próximas da animalidade do que da angelitude, começam a despertar, ainda de forma incerta e bruxuleante, com discretos ensaios de fraternidade.

Os primeiros sinais de cultura e humanidade

O despertamento do espírito da condição de animalidade foi gradativo e demorado. A princípio, por questão de sobrevivência, os instintos comandaram as ações do homem primitivo. Ainda em fase embrionária, os conhecimentos, mesmo precários, foram adentrando o cérebro em formação. Mesmo nesse momento inicial, ocorreram as primeiras manifestações de humanidade.

Uma das primeiras demonstrações de solidariedade de que se tem notícia nos estudos arqueológicos foi uma perna quebrada. Uma estudante perguntou à antropóloga Margaret Mead sobre o que ela considerava como o primeiro sinal de civilização de uma coletividade. Esperava-se que a cientista falasse em anzóis, utensílios de barro ou mesmo fragmentos de armas feitas com pedras amoladas. Apresentou um fêmur que sofrera quebradura e havia sido curado.

— No reino animal — explicou Mead —, quebrar uma perna significa a morte.

Nenhum animal sobrevive com uma perna quebrada durante o tempo suficiente para sua recuperação. Era assim também entre os homens. O indivíduo ficava impedido de correr, ir ao rio para beber, caçar ou ir em busca de suprimentos naturais. Um fêmur recuperado significa que alguém teve tempo e disposição para ficar com o ferido e cuidar dele. O primeiro sinal evidente de civilização surgiu com a constatação de que alguém teve amor e consideração pelo outro.

Espiritualização não prescinde do conhecimento

Se, desde o princípio, na ignorância do estado primitivo, o homem tivesse seguido o caminho do bem, ainda assim não chegaria à perfeição, mesmo relativa, porque o caminho evolutivo pressupõe a aquisição de conhecimentos. Tomemos como exemplo uma criança: a bondade instintiva e natural não a eximirá das experiências de transição entre a infância e a maturidade, capazes de ampliar seus horizontes e definir a abrangência de seus sentimentos.

Para que ocorra o crescimento moral, dentro dos parâmetros preconizados pelos planejamentos divinos, torna-se necessário que o espírito conheça os caminhos que os sentimentos deverão percorrer, para que eles sejam aplicados adequadamente. O sentimento, sem a razão e sem o conhecimento, poderá enveredar para a indisciplina, para o fanatismo ou ainda para a educação inadequada.

Amor sem razão e sem conhecimento

Narra André Luiz a situação de Paulo2, cuja mãe reivindicava, em assembleia do plano espiritual, a oportunidade de retornar ao campo terrestre, a fim de reabilitar o filho querido. Encontrava-se ele em extrema miséria moral, imerso em regiões trevosas, sem possibilidade de contato com a genitora. Por que chegara a essa condição? Não havia recebido boa educação na arena terrestre?

A mãe aflita era dotada de excelentes qualidades morais. No entanto, faltaram-lhe os cuidados com a disciplina e o estabelecimento de limites. Mentores espirituais fizeram-na melhor analisar seus procedimentos, quando encarnada. Ocorre que a exagerada proteção e a ausência de educação adequada comprometeram os limites que deveriam ter sido estabelecidos na vida de Paulo.

Um típico caso de mau direcionamento do amor, que favoreceu a indolência, alimentou a prepotência e fez surgir a agressividade e a rebeldia. Esquecera-se a pobre mãe que o amor pode ser expressado de inúmeras formas, dentre elas a da disciplina, do trabalho, do estudo e da vida honesta e digna.

O que acontecerá agora com a matrona e o filho desarvorado?

Retornarão à vida terrestre, sem mais o excesso de conforto, com difícil condição de sobrevivência e carência de recursos. A mãe estará, porém, consciente de que deverá conduzir a nova relação de maternidade nos parâmetros da moral e da disciplina.

Será a mãe que conduzirá o filho com rédeas curtas, com os conhecimentos adquiridos no plano espiritual, para que o amor seja respaldado pelo conhecimento, aliado à ética. Coração precisa do cérebro, sob pena de patrocinar desregramento e conduta viciosa.

Amor com ética e conhecimento

A narrativa que agora trazemos é bem diferente3. Um jovem sofreu um acidente. Estava pichando o muro de uma residência, quando foi surpreendido pelo proprietário. Na fuga, caiu e fraturou a perna. O pai recusou-se a dar-lhe assistência, alegando a irresponsabilidade do filho, na base do você errou, agora “vire-se” sozinho? Negativo!

Sem nada comentar, deu todo o amparo ao jovem, visando minimizar o estrago. Arrependido, o acidentado pediu desculpas ao pai, que preferiu discutir o assunto depois de sua recuperação.

Tempos mais tarde, após dois meses de dores, incômodos, imobilização e fisioterapia, o filho se achava quite com o seu carma. Foi então surpreendido pelas sábias palavras do pai, carregadas de carinho, porém plenas de lógica e responsabilidade:

— Filho, seus sofrimentos foram apenas consequências de seus atos. Chegou a hora de você reparar o mal que provocou.

— Foi tão grave assim? Pensei que depois dos meus sofrimentos tudo estivesse bem.

— Sim, está tudo bem entre nós dois. Mas, não entre você e a pessoa a quem causou dano. O pagamento começa agora, com a pintura do muro que você pichou.

— Puxa, pensei que você gostasse de mim, pai.

— Muito mais do que você imagina. Tão importante, porém, como o amor, é a justiça. Há uma dívida a resgatar, de sua responsabilidade, intransferível. E se não efetuar o pagamento agora, mais tarde poderá ser mais difícil, com as exigências da vida.

— Você tem razão, pai. A cidade acaba de ganhar um novo pintor.

— Espero que tenha se livrado de um pichador — disse o pai sorrindo.

***

O amor não prescinde da razão, alimentado pelas regras que a asa da intelectualidade proporciona. Filhos sem freios e sem limites, agasalhados apenas com o algodão da condescendência, podem se tornar desonestos e criminosos e voltar ao plano espiritual em precárias condições, que os obrigarão a difícil recomeço.

Incontestáveis progressos

Na década de sessenta, quando iniciei minha atividade profissional, as condições de trabalho eram extremamente precárias. Pude sentir, pessoalmente, ao cabo de apenas duas décadas, inegável avanço, que nos trouxeram, por exemplo, a informática, a internet e o telefone celular, só para citar tecnologias mais conhecidas. Da mesma forma, outras áreas de ciências humanas e exatas tiveram formidável salto qualitativo, com incontestáveis progressos. A inteligência humana está obtendo, sob o ponto de vista científico, artístico e de qualidade de vida, resultados jamais dantes alcançados.

E quanto ao progresso espiritual?

Em busca do equilíbrio intelectual/moral

A atual situação do orbe terrestre muito se assemelha à descrita por Emmanuel4, quando cita o Sistema de Capela, constelação que se faz acompanhar de sua família de mundos, quase todos já purificados física e moralmente. Embora um dos seus orbes houvesse atingido a culminância de seu ciclo evolutivo, lá ainda existiam alguns milhões de espíritos rebeldes, de alto nível intelectual, mas de baixo nível moral. Renitentes no mal, dificultavam a consolidação de penosas conquistas no campo da piedade e da virtude. Foram exilados na Terra, mundo em evolução primária.

Não obstante próximos, moralmente, do nível dos terráqueos, intelectualmente os capelinos eram muito mais evoluídos. Aqui, promoveram grandes transformações, como a domesticação de animais, a descoberta da agricultura, a formação da escrita, a utilização de metais e a vida urbana. Até hoje antropólogos não sabem explicar o surgimento da civilização neolítica, que tirou o homem da idade da pedra e o colocou em meio a significativas conquistas. Milênios depois, após cumprirem jornadas expiatórias, a maioria dos exilados retornaram ao planeta de origem.

Investimento intelectual

As duas asas – conhecimento e espiritualização – devem estar niveladas e precisam se desenvolver simultaneamente. Com o investimento intelectual, negligenciado o investimento moral, poderemos nos sujeitar a perigosos comprometimentos. O conhecimento nem sempre é suficiente para garantir a presença do amor nas relações5. Não basta admitir, superficialmente, a vaidade, o melindre e o egoísmo. É preciso, além de aceitar, conscientizar-se de seus efeitos funestos, que podem perdurar por muitas vidas.

Inteligências primorosas como Hitler, Átila, Stalin, Mao Tsé-Tung e muitos outros de tempos atuais, devotaram-se ao mal e fizeram estragos imensos à humanidade. Permitiram-se desenvolver a asa da intelectualidade, com pouca atenção ao aprimoramento moral, e desviaram-se lamentavelmente de seus objetivos.

Investimento moral

Se buscarmos, contudo, apenas o cultivo da virtude, sem o apoio do raciocínio e da razão, correremos o risco de cair no fanatismo. Tomemos como exemplo os eremitas do passado, que, por suposta espiritualização e fé, entregavam-se a excessos mórbidos. Alguns rolavam nus pelos espinheiros, ou se atiravam em charcos carregados de animais peçonhentos, porque acreditavam que o sofrimento os purificaria. Não é esse o princípio dos que querem cultuar a divindade, mesmo nos dias atuais, martirizando-se? Algumas seitas religiosas adotavam a ordem do silêncio, buscando Deus ao se fecharem ao diálogo com os homens. Tais criaturas incidem na fé sem obras, que a ninguém aproveita. Dizem aos sofredores que os procuram:

— Olhem que estou no caminho de Deus. Vão se virando aí, aquecendo-se e alimentando-se como puderem, que nos encontraremos no céu.

O direcionamento de forças em favor dos carentes de toda ordem precisa estar revestido do filtro da intelectualidade, para que os beneficie adequadamente, sob pena de se realizar o meio-bem, isto é, cuidar de um lado e descuidar do outro. O bem praticado com base apenas no sentimento, sem o auxílio mais acurado do raciocínio e da compreensão, pode ser ilustrado com esta oportuna página de Irmão X6.

Lição nas trevas

Espírito benfeitor penetrou escura região a fim de apaziguar, abençoar e aliviar grupo de desesperados. O serviço avançava com muita dificuldade, quando um chefe das trevas, ao reconhecer o missionário, acalmou os seus comandados, impondo-lhes respeitosa serenidade.

— Conheces-me? — perguntou o protetor.

— Sim. Eu era doente na Terra e curaste-me e lavaste minhas feridas. Deste-me teto e agasalho, supriste minha casa de pão e roupa, assistindo a mim e à minha família. Muitas vezes dividiste comigo o pouco de dinheiro que trazias no bolso.

Surpreso, o bondoso irmão estranhou a deferência e indagou:

— Por que agora entregas-te à obsessão e a delinquência?

— Amparaste a minha vida, mas não me ensinaste a viver.

***

Abençoados sejam o pão e a generosidade que venhamos a estender ao semelhante. Diz-nos, porém, a razão, que a assistência material deve ser acompanhada do ensino, do estudo, da profissionalização, da formação intelectual e da mensagem salvadora, para que os deserdados de toda sorte aprendam a caminhar com as próprias pernas.

Amai-vos e instruí-vos

Espíritas! Amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo. Com essa épica exortação, o Espírito Verdade, em comunicação na Paris de 1860, chamou nossa atenção para as verdades da Revelação Cristã.

Nosso planeta clama pelo equilíbrio das asas da cultura e da moral, do cérebro acoplado ao coração e do amor sustentado pela intelectualidade. O mundo está despertando para necessidade de unir o bem-estar moral com o gradativo progresso que vem sendo alcançado, mercê dos esforços dos homens, sob a inspiração de mestres da espiritualidade.

A inteligência deve continuar com seu desenvolvimento, porém precisa ser acompanhada pari passu  pelo sentimento, à medida que o mundo vai se livrando de tudo que enseja egoísmo, vaidade ou orgulho.

A felicidade alcançada pelo progresso intelectual logo dirá ao homem que ela somente será completa com o progresso moral. O Espiritismo, nesse estratégico momento da humanidade, saberá direcionar as criaturas para esse objetivo definitivo.

O homem espírita admite-se vaidoso e personalista, melindroso e egoísta. Porém, somente admitir tais imperfeições da alma pode ser somente movimento cerebral da inteligência iluminada pelo esclarecimento. Estar informado é a primeira etapa. Ser transformado é a etapa da maioridade.

Essas sábias palavras de Eurípedes Barsanulfo relembram a velha dicotomia do ser humano: ouvir com o cérebro, sem sentir com o coração. O estar informado do professor de Sacramento representa o exercício da intelectualidade. Nada ela acrescentará ao nosso esforço evolutivo, sem que a moral da transformação modifique o nosso comportamento.

Nivelamento de asas

Alerta-nos Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, que a superioridade moral nem sempre guarda proporção com a superioridade intelectual, sendo a recíproca verdadeira. Caminhar para o nivelamento das asas evolutivas depende, alerta o Codificador, da educação. A centelha divina que confere ao espírito o senso moral também lhe dá o alcance intelectual. É chegado o momento de adquirirmos novos hábitos, formar novos caracteres, porquanto a educação é o conjunto dos hábitos adquiridos7.

Sendo ele o primeiro desenvolvimento que desponta no homem civilizado, como pode o progresso intelectual engendrar o progresso moral?pergunta Allan Kardec8.

Respondem os espíritos:

— Fazendo compreensíveis o bem e o mal. O homem, desde então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos.

A teoria e a prática

Para que o amor possa ser vivenciado plenamente, é necessário o conhecimento, que nos permitirá a perfeita distinção entre o bem e mal. Sem ele, poderemos enveredar para a fantasia, para o fanatismo, e perder preciosas oportunidades reencarnatórias. O instruí-vos está presente nos preparativos proporcionados pelos institutos de reencarnação descritos por André Luiz, e o amai-vos, no cumprimento das promessas que precedem o início de uma nova jornada existencial.

No encerramento deste trabalho, em que destacamos a necessidade de as nossas práticas refletirem conhecimentos adquiridos, julgamos oportuno trazer, resumidamente, expressiva história narrada por Irmão X8, para que tenhamos presente a necessidade de o amai-vos guardar consonância com o instruí-vos, a fim de que a bênção da atual encarnação seja coroada pela realização dos compromissos evolutivos.

Obsessão pacífica8

A narrativa se inicia com o reencontro entre o autor e o amigo Custódio Saquarema, na vida espiritual. Ele sabia que Custódio havia recebido adequada educação religiosa em sua recente encarnação e, por isso, imaginava seu retorno coroado de plenas realizações no campo terrestre, capazes de conduzi-lo a estâncias superiores.

Ao ser indagado quanto aos sucessos alcançados, Saquarema sorriu vagamente, dando a entender que as coisas não haviam ocorrido exatamente como esperava.

— Você não imagina, caro amigo, o que é uma obsessão disfarçada, sem mostras de violência, capaz de desviá-lo dos objetivos traçados. Acumulei prestígio e dinheiro, mas retorno mais pobre do que quando parti para a reencarnação.

— Cheguei ao plano físico levando excelente programa de trabalho, que me asseguraria avanço. No entanto, fui localizado por velhos amigos, companheiros de experiências não edificantes, que passaram a exigir minha cooperação para se vincularem às sensações do plano terrestre. Não me violentaram. Apenas insinuaram-se através de simples considerações íntimas.

— Na adolescência, instrutores, através de meus pais, exortaram-me a cultivar estudo, abnegação e aprimoramento. Mas, as vozes dentro de mim inclinavam-me ao descaso e à indolência. Ao iniciar a vida profissional, as advertências do Alto se tornaram mais frequentes. O que fiz disso? Acatei as sugestões das sombras, que me convenciam de que não seria possível conciliar trabalho com missão espiritual.

— Depois do meu casamento, os chamados à espiritualização recrudesceram. Minha atenção, no entanto, estava voltada para o dinheiro, posição e vida social. Na vida madura, ainda ouvia os espíritos clamando por minha elevação moral e execução dos compromissos assumidos. As vozes internas falavam mais alto:

— Você tem muitas obrigações sociais, Custódio. Você não está preparado para seara de fé…

— Quando a velhice e a doença — essas duas enfermeiras da alma — chegaram, eu ainda ouvia os derradeiros convites da espiritualidade maior. Meus velhos parceiros, no entanto, não me davam trégua:

— Você, velho Custódio?! Que vai fazer com profissão de fé e mensagens de outro mundo? Amigos e parentes vão falar em loucura e senilidade. Tarde demais, Custódio.

— Meus perseguidores não me agrediram, nem me conturbaram a mente. Tão somente acalentaram meu comodismo. Volto de mãos vazias, embora tenha tido um campo fértil à disposição, onde poderia ter amealhado inimagináveis tesouros.

— Sei que você escreve para os homens da Terra. Alerte-os para a obsessão pacífica, provinda de parceiros, não necessariamente obsessores, que incensam o comodismo e nos afastam dos compromissos assumidos.

Epílogo

Richard Simonetti costumava, a título de pilhéria, dizer que somos mestres em planejamento, porém incompetentes no ‘fazejamento’. As asas do progresso intelectual e moral devem crescer simetricamente, sob pena de continuarmos marcando passo, em interminável trânsito entre a vida espiritual e a vida material.  De nada adiantará a cultura, se ela não se converter em obras. Teorizar, planejar e buscar intelectualização são preciosos passos, que, contudo, ficarão mancos, se não forem aplicados no divino embate da jornada evolutiva.

Exorta-nos Emmanuel:

Espíritas, jamais abdiquemos do estudo!

Estejamos sempre conscientes, porém, de que a Doutrina Espírita nos reconduz ao Evangelho do Cristo, que nos fazer compreender definitivamente que a imensa evolução científica do homem terrestre deverá nos conduzir, inelutavelmente, para o Sol Moral do mundo, a brilhar hoje, como brilhava ontem, para brilhar mais intensamente amanhã9.

 

 

Referências:

1 –  LUIZ, André. Entre a terra e o céu. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. 13. Ed. Cap. X. Pg. 66 “Preciosa conversação”. Março de 1990. FEB.

2 –  LUIZ, André. Ação e Reação. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. 15. Ed. Cap.2. Pg. 20 “Comentários do instrutor”. Julho de 1993. FEB.

3 – SIMONETTI, Richard. Atravessando a rua. 1. Edição. Lição 10. “Teatrinho” 1985. IDE –  Instituto de Difusão Espírita.

4 – EMMANUEL. A caminho da luz. 5. Edição. Cap. III “O sistema de Capela” 1961. FEB.

5 – SAMPAIO, José Mário. Quem sabe pode muito, quem ama pode mais. Psicografia de Wanderley Oliveira. Edição de 2016. Editora Dufaux.

6 – X, Irmão. Cartas e Crônicas. Edição de 1966. Lição 1. “Lição nas trevas”. FEB.

7 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questão 685. Trad. Dr. Guillon Ribeiro –FEB.

8 – X, Irmão. Cartas e Crônicas. Edição de 1966. Lição 8. “Obsessão pacífica”. FEB.

9 – EMMANUEL. Religião dos Espíritos. Janeiro de 1960. Lição 76. “Jesus e atualidade”. FEB.

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