Índice
7 Profissão de fé espírita racionada
Resumo
A misericórdia divina manifesta-se por todo o Universo através da sua obra. Seus mensageiros disponibilizam acessos em sua direção, mesmo aos que se mantêm indiferentes ou incrédulos. Neste texto, a análise de alguns desses caminhos.
Palavras-chave
Agnosticismo. Materialismo. Dor. Dúvidas filosóficas. Assinaturas misteriosas. Descobertas científicas.
“Ateu – enfermo que sonha
Na ilusão em que persiste
Um filho que tem vergonha
De dizer que o pai existe.
Alberto Ferreira”
(Psicografia de Francisco Cândido Xavier)
Huxley1
Thomas Henry Huxley (1825-1895), biólogo e filósofo britânico, foi o patriarca de distinta família de acadêmicos, incluindo o escritor inglês Aldous Huxley (1894-1963) (A Ilha e Admirável mundo novo). Huxley foi um dos poucos que gozaram da irrestrita confiança de Charles Darwin (1809-1882), naturalista, geólogo e biólogo britânico, tendo sido um dos principais responsáveis pela publicação do seu livro A Origem das Espécies (1859) e tornando-se ferrenho defensor da Evolução. Orador perspicaz e feroz, era dono de um humor cínico, que lhe valeu o apelido de O buldogue de Darwin. Isso ficou muito claro no debate sobre a Evolução ocorrido em 30 de junho de 1860, quando seu principal opositor, o Bispo Samuel Wilberforce, teria lhe perguntado:
— Foi através da sua avó ou do seu avô que o senhor alega a sua descendência de um macaco?
Com a ferocidade que o caracterizava, vociferou:
— Se a questão é se eu preferiria ter um macaco miserável como avô, ou um homem altamente favorecido pela natureza, que possui grande capacidade de influência, mas “mesmo assim” emprega essa capacidade e influência para o mero propósito de introduzir o ridículo em uma discussão científica séria, eu não hesitaria em afirmar a preferência pelo macaco.
Essa agressividade ficou muito bem explicada, anos mais tarde, quando Darwin referiu-se a Huxley como “o rei dos homens”. Ele assim se manifestou:
— Agora você pode entender por que todos nós que conhecemos Darwin temos grande afeição por ele, e quando seus inimigos insultam esse nobre homem, por que é meu direito ser tão duro em sua defesa.
Não apenas a Teoria da Evolução, como também os pensamentos e sentimentos de Darwin foram assimilados por Huxley.
Em carta, datada de 1880, do próprio punho, endereçada ao advogado Francis McDermott, Darwin deu uma resposta clara sobre sua posição perante o Novo Testamento:
— Lamento ter de informá-lo que não acredito na Bíblia como revelação divina e, portanto, tampouco em Jesus Cristo como o filho de Deus. Atenciosamente. Ch. Darwin.
Isso significava que ele negava a existência de Deus e essa posição teria influenciado Huxley? A resposta seria positiva se não atentássemos para outra declaração de Darwin. Reticente sobre suas visões religiosas, que costumava não misturar com seus estudos científicos, em 1879 ele já havia escrito:
— “Eu nunca fui um ateísta no sentido de negar a existência de Deus. Eu penso que em geral… o agnosticismo poderia ser a forma mais correta de descrever meu estado mental”.
Quem influenciou quem?2
Em 1869, Huxley cunhou a palavra agnóstico para designar a pessoa que considera inacessível ao entendimento humano a existência de Deus, o sentido da vida e do universo.
Embora, como seres relativos, ainda não tenhamos condições de compreender o infinito e o absoluto, o agnosticismo abrange os que se acham incapazes de saber se existem ou não divindades, pois estão acima da compreensão humana, os que não acreditam na existência das divindades e os que têm dúvidas sobre tudo que não pode ser respondido pelo método científico.
As palavras de Darwin não negam a existência de Deus. A impressão dos filósofos e cientistas é que Huxley quis encontrar uma posição entre o ateísmo e o teísmo, nem acreditando, nem desacreditando na existência de uma divindade. Há estudiosos que afirmam ser o agnóstico um ateu envergonhado, que não quer ser discriminado ou ser acusado de dogmatismo.
Resumindo: um ateu não acredita nem em Deus, nem na imortalidade da alma. Um agnóstico (ou pelo menos a maioria) acredita isso impossível de se saber, por enquanto, mas que essa resposta não tem a menor importância.
Vejamos as consequências dessas posições simplistas, dúbias ou reducionistas, que carecem de aprofundamento diante dos acontecimentos, esclarecimentos filosóficos e recentes descobertas científicas.
Caminho da solidão3
Fabiano Salustiano era agnóstico. Competente médico, não tinha certeza da imortalidade e pensava que, talvez, a vida terminasse no nada. Um ateu disfarçado.
Planejava o suicídio. Motivo? Saudade irresistível da esposa, que havia falecido por suposta culpa sua. Isaura realizara perigosa cirurgia estética com sua anuência. Sofrera choque anafilático e não resistira.
— Eu deveria ter impedido que ela fizesse a cirurgia. Sua idade não recomendava a intervenção e eu a amava do jeito que ela era — pensava.
Achando que a morte daria jeito naquela irresistível pressão depressiva, abrira completamente suas defesas e praticamente convidara elementos do espaço que o convidavam para a morte. Mal inspirado, começou a procurar alguma substância que o levasse à morte de maneira disfarçada. Algo que simulasse um ataque cardíaco, pois não queria aparecer, perante os filhos, como suicida.
Depois de encontrar o veneno, abraçou os filhos e netos, a pretexto de viagem de repouso, para renovar suas energias.
Estava em sua casa, à noite, preparando a dose letal. Quando a serviçal chegasse pela manhã, o encontraria morto, vitimado por suposto enfarte fulminante. Um amigo médico, a que simulara queixas cardíacas, não vacilaria em diagnosticar a morte por problemas do coração.
De repente, assustou-se com a campainha.
— Quem seria naquela hora?
Pela câmera, viu um casal à porta. Ignorou a chamada. Insistiram. Teria que atender, pois os vizinhos poderiam se alarmar e chamá-lo.
— O que desejam? — perguntou pelo interfone.
— Trazemos uma carta para o senhor.
— A essa hora? — perguntou Salustiano, desconfiado. De quem?
— De Dona Isaura.
— Impossível, Isaura está morta!
— Sim, sabemos disso. Mas, ela insistiu que disséssemos que o senhor não teve culpa.
Estranhando tudo aquilo, abriu a porta.
— Desculpe a hora, senhor. Mas, Dona Isaura disse que teríamos que entregar a carta ainda hoje.
— Como essa carta foi parar nas mãos de vocês?
— Frequentamos um centro espírita aqui perto, onde sua esposa se manifestou. Após narrar como morreu, transmitiu esta carta mediunicamente.
Salustiano absolutamente não acreditava em comunicações mediúnicas, mas estava pasmo. Ninguém sabia, nem mesmo os filhos e netos, do seu complexo de culpa em relação à morte da esposa. Mas, uma carta? Psicografada? Agnóstico, considerava as coisas de Deus complexas demais e encarava religião e comunicações de além-túmulo com incredulidade e indiferença. Resolveu ler a carta.
— Meu querido Fafá…
Impossível, somente ela o chamava dessa forma carinhosa.
— Não foi fácil deixar a nossa casa, principalmente você, alma de minha alma, meu amigo, meu amor, minha vida! Sei agora que os desígnios de Deus são sábios e justos. A separação transitória é a oportunidade de avaliar nosso relacionamento com alguém, uma descoberta, tão importante, que deveríamos nos despedir dizendo um alô, nunca um adeus.
— Esse espaço de tempo separados estava planejado. Deveríamos passar por isso. O que não estava previsto é que você ficasse com complexo de culpa e pretendesse redimir-se com a morte. Imploro, meu querido, não cometa essa loucura, que apenas nos manterá afastados por tempo imprevisível.
— Lembro-me de suas confidências quando dizia-me que tinha dois grandes amores, eu e a medicina. Sempre admirei muito, e você sabe disso, seu carinho com os pacientes, um maravilhoso médico idealista, que vive para a medicina, não da medicina. Pois bem, meu querido. Aproveite os anos que lhe restam redobrando seus cuidados com os pacientes, prosseguindo nesse sacerdócio abençoado, a fim de que quando o Senhor aprouver que você retorne à vida espiritual nos reencontremos, retomando nossa caminhada. Deus o abençoe, meu amor!
Após aquela carta providencial, que Fabiano Salustiano aconchegava junto ao peito, como se abraçasse a própria esposa, lágrimas correram pelo seu rosto, lavando o seu desespero. Sim, aquelas palavras eram realmente da esposa e não havia mais dúvidas em sua mente de que ela continuava viva.
Respeitaria suas recomendações e aguardaria o momento certo para reencontrá-la. Agradeceu aos dois jovens pela abençoada carta e quis conhecer o centro espírita que frequentavam.
— Quem sabe lá eu possa encontrar paz para o meu coração e talvez voltar a ter notícias de minha esposa.
Despedindo-se, os dois jovens, igualmente emocionados, deram o endereço do centro, convidando-o a conhecer seus trabalhos. Irmãos maiores que os acompanharam naquela providencial visita diziam-lhes, pelas vias da intuição, que ali estava um futuro e dedicado trabalhador.
Caminho do desespero4
A presença divina em nossas vidas é algo muito forte, pois no caminhar da existência naturalmente a encontramos. Mesmo entre as piores pessoas, dificilmente alguém negará essa realidade. No entanto, de vez em quando encontramos pessoas boas, trabalhadoras, de boa índole, que, por razões desconhecidas, negam a presença de Deus em suas vidas. São igualmente protegidas pela bondade divina, que independe de aceitarmos ou não a existência do Criador. Nessa linha de pensamentos, trago-lhe, amigo leitor, surpreendente história de um bom farmacêutico, ateu.
Honório simplesmente não encontrava tempo para cogitar intimamente de Deus. Não obstante, era um bom homem, trabalhador, generoso e cumpridor de seus deveres. Em certa ocasião, encontrava-se na farmácia em que trabalhava, quando entrou uma menina.
— Sinto muito, minha filha, estou de saída.
— Por favor, senhor farmacêutico. Minha mãe está gravemente doente e precisa tomar esse medicamento agora.
Nessa época os medicamentos eram aviados na própria farmácia. O farmacêutico era um químico, a misturar substâncias.
Vendo a menina tão aflita, decidiu atendê-la. Foi ao laboratório e preparou o remédio com a mistura recomendada. A menina partiu, apressada.
O bom homem voltou ao laboratório para guardar o material usado. De repente, notou que havia se enganado. Havia utilizado substância tóxica, que, se ingerida, provocaria a morte da paciente. Apavorado, correu à entrada da farmácia, olhou a rua em todas as direções, foi até a esquina…. Não viu mais a menina.
E agora?
Não conhecia a paciente. Não reparara no nome do médico. Não havia a mínima chance de desfazer o engano. O farmacêutico estava prestes a tornar-se um criminoso, matando a pobre mãe, por seu descuido. Atormentado, não tinha mais ninguém a quem recorrer. Ele, que nunca havia admitido a existência de Deus, naquele momento pensou nEle como única esperança que lhe surgiu à mente. Ergueu o olhar e falou, suplicante:
— Deus! Se o Senhor existe, ajude-me. Proteja a doente e não deixe que eu me torne um criminoso.
E chorava copiosamente, repetindo:
— Ajude-me! Ajude-me! Por misericórdia, Senhor!
De repente, alguém tocou de leve em seus ombros. Virou-se, assustado e, num misto de espanto e alívio, viu que era a menina.
—Ah! Meu senhor, uma coisa terrível aconteceu. Tão afobada eu estava a correr, na ânsia de levar o remédio para minha mãe, que caí, não sei como. O vidro escapou-me das mãos e se espatifou. Não tenho dinheiro para outra receita. Por favor, atenda-me, em nome de Deus!
O farmacêutico não acreditava no que estava ouvindo. Emocionado, disse:
—Sim, sim, minha filha! Fique tranquila! Eu lhe darei o remédio, em nome de Deus!
Preparou uma nova receita, agora com muito cuidado, sem pressa. Entregou o medicamento à menina e recomendou-lhe prudência. Depois fechou a farmácia e, ajoelhando-se novamente, murmurou em meio a lágrimas ardentes:
—Obrigado, meu Deus!
A maioria dos incrédulos não são ateus. São à-toa, pois têm preguiça de refletir na grandiosidade da obra divina. Permanecem, por conta própria, na indiferença para com os objetivos da existência humana. Mais cedo, ou mais tarde, quando acicatados pelo guante da dor, mudam rapidinho de opinião e aproximam-se da religiosidade. Nesse tom, passarão a se empenhar a vivenciar a crença sublime da presença de Deus em suas vidas.
Caminho da lógica5
Carlos adotara um posicionamento agnóstico, pois considerava as ideias religiosas sobre Deus demasiadamente fantasiosas. Não se dizia materialista, mas não professava nenhuma religião. Dizia-se “católico não praticante”, expressão que significa absolutamente nada. No fundo, procurava alguma luz para as suas imensas dúvidas filosóficas, a começar da incapacidade para explicar a inteligência suprema.
Sua família não era ligada a qualquer atividade religiosa. Ao lado da esposa, havia passado para os filhos a ideia de que as religiões são inconsistentes, com princípios que não resistem à lógica. Uma atitude, aliás, da maioria das pessoas, mormente as mais cultas, de não se envolverem em qualquer movimento filosófico, alegando falta de tempo ou, na base do “não experimentei e não gostei”.
Esse era o comportamento de Carlos. Não era feliz, levava o germe da dúvida com ele, e fugia para programas frívolos estimulados pela esposa, desperdiçando precioso tempo de aprendizado e progresso evolutivo.
Até que conheceu Osório, culto e idoso senhor que a esposa acolhera por alguns dias. Para sua surpresa, a filha, Marli, que sempre se inclinara para atividades fúteis, estava se interessando pelo Espiritismo. Osório, humilde e modesto, descartava qualquer mérito pessoal e creditava o entusiasmo da filha de Carlos pela Doutrina Espírita, que chamava de maravilhosa, ao seu conteúdo e lógica.
Não demorou para ele presentear Carlos com um exemplar de O Livro dos Espíritos. A princípio céptico e crítico, recusava-se a abrir o livro. No entanto, pensava:
— Se minha filha, rigorosa em suas leituras, sentira-se atraída por aquela doutrina, era porque tinha alguma mensagem importante.
Em seu escritório, longe de todos, pois se constrangeria se houvesse alguém por perto, abriu o livro ao acaso. E o “acaso” se fez presente com um dos textos mais importantes da primeira obra de Allan Kardec:
Do poder de uma inteligência se julga pelas suas obras. Não podendo nenhum ser humano criar o que a Natureza produz, a causa primária é, conseguintemente, uma inteligência superior à Humanidade. Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência humana tenha operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere, tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe deem.6
Aquela leitura acendeu uma luz na cabeça de Carlos. O texto que acabara de ler esclarecia uma de suas dúvidas mais ardentes de suas perquirições. Se aquele conceito, que surgiu aleatoriamente, o havia impressionado tanto, aquele livro mereceria ser lido. Convidava-o à necessidade urgente de estudar, conhecer-se melhor a fim de adentrar na compreensão dos elementos, aspectos e fatores que remontavam à sua origem, sua natureza, sua estrutura, sua trajetória e seu destino. 7
Leu O Livro dos Espíritos. Leu não. Devorou, surpreendendo-se com a visão clara e objetiva a respeito do universo, Deus, espíritos e seres da criação. Com lógica e simplicidade, aqueles textos o convidavam ao exercício do raciocínio para chegar à existência de um Criador. Bastaria analisar o universo como um efeito inteligente, infinitamente superior à mais sofisticada realização humana. Percebia agora que difícil seria provar a inexistência de Deus, isto é, explicar a criação sem a presença de um Criador.
Deslumbrado, era como se antes vivesse em trevas e aquele livro se tornasse na luz que iria conduzi-lo ao conhecimento e à verdadeira visão a respeito da vida, do além da vida e do próprio universo.
— E o mais interessante — pensava Carlos — é que aquela obra não era fruto de “achismos”, especulações ou lendas herdadas de antepassados. Eram conhecimentos lógicos, profundos, a partir de informações colhidas pelo autor diretamente dos espíritos. Isto é, direto das fontes dos maiores sábios que passaram pela Terra, como Sócrates, Platão, Santo Agostinho, Fénelon, Swedenborg e muitos outros.
A partir da leitura de O Livro dos Espíritos, Carlos passou a encontrar a finalidade da jornada humana, realizada através do desenvolvimento das faculdades intelectuais, morais e espirituais da alma humana. Um dos pontos que mais o impressionou foi o da existência de um planejamento existencial, relacionado com a profissão, família, filhos e outros eventos significativos.
Na primeira oportunidade que teve, externou ao velho Osório a surpresa de ter encontrado naquela magnífica obra uma prodigiosa filosofia, porém enunciada em termos simples, com suportes científicos, desembocando em consequências religiosas.
— Fico feliz — respondeu Osório — que a leitura tenha despertado tantos ensinamentos que jaziam encapsulados em sua memória espiritual. Com uma simples leitura, você acaba de enunciar o tríplice aspecto da Doutrina Espírita.
— Permanecerei pouco tempo em sua casa. Não quero abusar de sua bondade. Apenas o necessário para eu me arrumar em moradia definitiva. No entanto, estarei sempre à sua disposição, quando eu puder esclarecer quaisquer dúvidas.
Agradecido, Carlos fitou, ensimesmado, aquele idoso, porém culto senhor, que soubera aproveitar o seu tempo de vida com estudos e reflexões. Ficou pensativo, com a saída de Osório de seu escritório, guardando suas palavras e ensinamentos.
***
Bem-aventurados, caro leitor, os que se dispõem a procurar a verdade, ainda nesta vida. O caminho irretorquível da lógica e da transparência, daquele que estuda e se exercita na atividade intelectual, é dos mais suaves que a bondade divina nos oferece para caminharmos em sua direção.
Caminho da ciência8
Em 2021, a estudante Alexia Lopes, buscando o título de PhD, estava analisando a luz proveniente de quasares distantes, quando fez uma descoberta surpreendente. Ela havia encontrado um arco de galáxias gigante, a 9,3 bilhões de anos-luz da Terra, na constelação do Boieiro. Ele tinha 3,3 bilhões de anos-luz de extensão, com estrutura cobrindo cerca de 1/15 do raio do Universo observável. Se essa estrutura pudesse ser vista da Terra, teria o tamanho de 35 luas cheias enfileiradas no céu. Quando os cientistas observam o universo em escalas muito grandes, eles não deveriam observar grandes irregularidades, tudo deveria ter a mesma aparência, em todas as direções. A estrutura encontrada por Lopes, ao lado de outras imensas, está forçando os cientistas a redefinir sua teoria sobre a evolução do universo. Afirmou Lopes que a sua descoberta se deveu a um feliz acidente e simplesmente teve a sorte de ter sido ela quem encontrou.
O Arco Gigante descoberto por Lopez não é a única estrutura em larga escala descoberta pelos astrônomos. Existe também a “Grande Muralha” de galáxias (também chamada de Grande Muralha CfA2), descoberta em 1989 por Margaret Geller e John Huchra. A muralha tem cerca de 500 milhões de anos-luz de comprimento, 300 milhões de anos-luz de largura e 15 milhões de anos-luz de profundidade.
A Grande Muralha Sloan é ainda maior – uma estrutura cósmica formada por uma parede gigante de galáxias, descoberta em 2003 por J. Richard Gott 3°, Mario Jurić e seus colegas da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Essa muralha tem cerca de 1,5 bilhão de anos-luz de extensão.
A descoberta desses colossos astronômicos acelerou-se ainda mais na última década. Superaglomerados e muralhas foram detectados por cientistas em 2014, 2016 e 2020. O recorde atual entre essas estruturas é da Grande Muralha Hércules-Coroa Boreal, descoberta em 2013, que cobre 10 bilhões de anos-luz, mais de 10% do universo observável.
Para explicar o início e a evolução do universo, cientistas partem do particular para o geral. Ou seja, em grande escala, o universo deveria ter, aproximadamente, a mesma aparência em toda parte. Pelo que se sabia até agora, não deveriam existir estruturas gigantes e o espaço deveria ser suave e uniforme. É aí que surgem as maiores dúvidas para os astrônomos. Desde o momento em que supostamente teria ocorrido o Big Bang, não teria havido tempo para que essas estruturas gigantescas se formassem.
A principal conclusão a que chegou a cientista Alexia Lopes e que está tomando conta das suposições de todo o meio científico é, conforme suas palavras, ser extremamente improvável que essa grande estrutura tenha surgido ao acaso. Ela sugere que pode ter sido formada por alguma razão na física natural do universo que atualmente não conhecemos.
***
A harmonia excelsa está presente em toda a obra universal. Espraia-se pela natureza, em cada um de seus detalhes, e por toda a criação macrocósmica e microcósmica. A sequência da proporção áurea, constatada pelo matemático italiano Leonardo Fibonacci, pode ser encontrada na disposição de um galho, nas folhas, no cone da alcachofra, no abacaxi, no desenrolar de uma samambaia, na concha de um caramujo, no rabo de um camaleão, nas presas de um elefante, no miolo do girassol ou nas espirais de uma pinha. As mesmas proporções, ainda que de forma intuitiva, foram aplicadas pelo homem, por exemplo, na estética do templo grego Parthenon, nos blocos das pirâmides do Egito ou mesmo na razão entre as estrofes maiores e menores do épico poema de Homero, como, na atualidade, são utilizadas na análise dos mercados financeiros, na ciência da computação e na teoria dos jogos. O mesmo padrão expressa-se no extraordinário mecanismo que rege a evolução do espírito. Esse progresso integra-se à harmonia universal.
Cientistas estão atônitos, pois as novas descobertas desafiam tudo o que já estudaram sobre a criação do universo. Ao falarem em sorte, feliz acidente ou em razão que atualmente não conhecemos, estão sendo obrigados a refletir sobre o axioma de que não há efeito sem causa.
Espíritos superiores começam a descortinar, através de inspirações aos grandes estudiosos, cujas ações eles insistem em classificar como acidentais, novas descobertas, que serão facilmente explicadas se aceitarem a óbvia prova da existência de Deus.
Profissão de fé espírita racionada
Ouçamos Allan Kardec.
— “ Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus? ” — indaga o Codificador9.
— Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá — respondem os espíritos.
Comenta Richard Simonetti10 que a convicção plena da divindade depende de uma profissão de fé destituída de dogmas e especulações, porém baseada em princípios racionais, apoiados na lógica e no bom senso.
O livro Obras Póstumas11, de Allan Kardec, atende plenamente esses desejados requisitos, trazendo-nos “Uma profissão de fé espírita raciocinada”, da qual transcrevemos o item nº 1:
Há um Deus, inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.
A prova da existência de Deus temo-la neste axioma:
Não há efeito sem causa. Vemos constantemente uma imensidade de efeitos, cuja causa não está na Humanidade, pois que a Humanidade é impotente para produzi-los, ou, sequer, para os explicar. A causa está acima da Humanidade. É a essa causa que se chama Deus, Jeová, Alá, Brama, Fo-Hi, Grande Espírito, etc. Tais efeitos absolutamente não se produzem ao acaso, fortuitamente e em desordem. Desde a organização do mais pequenino inseto e da mais insignificante semente, até a lei que rege os mundos que circulam no Espaço, tudo atesta uma ideia diretora, uma combinação, uma previdência, uma solicitude que ultrapassam todas as combinações humanas. A causa é, pois, soberanamente inteligente.
Existe uma ordem celeste que deve ser respeitada, sob pena de colhermos as consequências desse desrespeito. Essa é uma das principais decorrências da aceitação de um Ser Supremo. Há, todavia, algo ainda mais importante.
A crença em Deus nos dá segurança, com a certeza de que não estamos entregues à própria sorte. É muito bom conceber que, desde sempre, antes mesmo que o conhecêssemos, Deus já cuidava de nós!12
Caminho do “Milagre”13
Quanto custa um milagre?
Uma garotinha esperta, de apenas seis anos de idade, ouviu seus pais conversando sobre seu irmãozinho mais novo. Tudo que ela sabia era que o menino estava muito doente e que estavam completamente sem dinheiro. Iriam se mudar para um apartamento num subúrbio, no mês seguinte, porque seu pai não tinha recursos para pagar as contas do médico e o aluguel do apartamento. Somente uma intervenção cirúrgica muito cara poderia salvar o garoto, e não havia ninguém que pudesse emprestar-lhes dinheiro. A menina ouviu seu pai dizer a sua mãe chorosa, com um sussurro desesperado:
— Somente um milagre poderá salvá-lo.
Ela foi ao seu quarto e puxou o vidro de gelatina de seu esconderijo, no armário. Despejou todo o dinheiro que tinha no chão e contou-o cuidadosamente, três vezes. O total tinha que estar exato. Não havia margem de erro. Colocou as moedas de volta no vidro com cuidado e fechou a tampa. Saiu devagarzinho pela porta dos fundos e andou cinco quarteirões até chegar à farmácia. Esperou pacientemente que o farmacêutico a visse e lhe desse atenção, mas ele estava muito ocupado no momento. Ela, então, esfregou os pés no chão para fazer barulho, e nada! Limpou a garganta com o som mais alto que pôde, mas nem assim foi notada. Por fim, pegou uma moeda e bateu no vidro da porta. Finalmente foi atendida!
— O que você quer? — perguntou o farmacêutico com voz aborrecida.
— Estou conversando com meu irmão que chegou de Chicago e que não vejo há séculos — disse ele sem esperar resposta.
— Bem, eu quero lhe falar sobre meu irmão. — respondeu a menina no mesmo tom aborrecido. — Ele está realmente doente… E eu quero comprar um milagre.
— Como? — balbuciou o farmacêutico, admirado.
— Ele se chama Andrew e está com alguma coisa muito ruim crescendo dentro de sua cabeça e papai disse que só um milagre poderá salvá-lo. E é por isso que eu estou aqui. Então, quanto custa um milagre?
— Não vendemos milagres aqui, garotinha. Desculpe, mas não posso ajudá-la. — respondeu o farmacêutico, com um tom mais suave.
— Escute, eu tenho o dinheiro para pagar. Se não for suficiente, conseguirei o resto. Por favor, diga-me quanto custa. — insistiu a pequena.
O irmão do farmacêutico era um homem gentil. Deu um passo à frente e perguntou à garota:
— Que tipo de milagre seu irmão precisa?
— Não sei. — respondeu ela, levantando os olhos para ele. Só sei que ele está muito mal e mamãe diz que precisa ser operado. Como papai não pode pagar, quero usar meu dinheiro.
— Quanto você tem? — perguntou o homem de Chicago.
— Um dólar e onze centavos. — respondeu a menina num sussurro.
— É tudo que tenho, mas posso conseguir mais se for preciso.
— Puxa, que coincidência — sorriu o homem. Um dólar e onze centavos! Exatamente o preço de um milagre para irmãozinhos.
O homem pegou o dinheiro com uma mão e, dando a outra mão à menina, disse:
— Leve-me até sua casa. Quero ver seu irmão e conhecer seus pais. Quero ver se tenho o tipo de milagre que você precisa.
Aquele senhor gentil era um cirurgião, especializado em neurocirurgia. A operação foi feita com sucesso e sem custo algum. Alguns meses depois, Andrew estava em casa novamente, recuperado. A mãe e o pai comentavam alegremente sobre a sequência de acontecimentos ocorridos. A cirurgia, murmurou a mãe, foi um milagre real. Gostaria de saber quanto deve ter custado.
A menina sorriu. Ela sabia exatamente quanto custa um milagre…
— Um dólar e onze centavos… — pensou.
Mais a fé de uma garotinha…
***
Não há situação, por pior que seja, que resista ao milagre do amor de Deus, que nunca nos falta. Quando o amor entra em ação, tudo vence, tudo acalma. Onde o amor se apresenta, foge a dor, afasta-se o sofrimento e o egoísmo bate em retirada. Confiemos sempre na misericórdia divina, que sempre está presente, para resolver nossos problemas ou para acalmar nosso desespero, sob a luz da resignação.
Referências:
1 – LA COTARDIÈRE, Phillippe de. História das ciências: da antiguidade aos nossos dias. Pg. 177. 2011. Ed. Lisboa.
2 – AGNOSTICISMO – Wikipédia – A enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Agnosticismo.
3 – SIMONETTI, Richard – O melhor é viver. – Cap. 8. Pg. 45. A carta salvadora. Ed. 1. 2018. Ceac Editora.
4 – SIMONETTI, Richard – A presença de Deus – Cap. 3. Pg. 29. O ateu e o à-toa. Ed. 1. 1995. Edição e Distribuição Gráfica São João Ltda.
5 – SIMONETTI, Richard – Vaso de porcelana – Extratos e adaptações do capítulo Julho. Fls. 99 a 104 – Edição 7. 1997. Ceac Editora.
6 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Cap. I. De Deus. Questão 9. Trad. Dr. Guillon Ribeiro – Ed. 18. 1942. FEB.
7 – RIBEIRO, Luiz Julião. A cólera. Artigo publicado em Reformador. Fevereiro/2023. FEB.
8 – BBC NEWS BRASIL em 18/3/21.
9 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Cap. I. De Deus. Questão 4. Trad. Dr. Guillon Ribeiro – Ed. 18. 1942. FEB.
10 – SIMONETTI, Richard – A presença de Deus – Cap. 2. Pg. 21. Profissão de fé. Ed. 1. 1995. Edição e Distribuição Gráfica São João Ltda.
11 – KARDEC, Allan. Obras póstumas. Primeira parte. Cap. I. Deus. Trad. Dr. Guillon Ribeiro. Ed. 15. 1975. FEB.
12 – SIMONETTI, Richard – A presença de Deus – Cap. 2. Pg. 27. Profissão de fé. Ed. 1. 1995. Edição e Distribuição Gráfica São João Ltda.
13 – MENSAGENS MOMENTO ESPÍRITA – volume 6 – Quanto custa um milagre? – Autoria desconhecida.