Artigos Espíritas

A mensagem do espiritismo para uma vida melhor

Sidney contribui para diversos órgãos da imprensa espírita e laica, produzindo artigos para reflexões oportunas em todas as épocas. Todos os artigos estão disponíveis nesta seção para você compartilhar em suas redes sociais ou, no caso de jornais e boletins espíritas, utilizar livremente em suas publicações, com a gentileza de citar o crédito do autor.

Boa leitura! E que a mensagem espírita chegue cada vez mais longe!

Lágrimas providenciais

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Paulo nunca se dera muito bem com templos e igrejas. Sua formação religiosa limitara-se a noções elementares da mãe e da catequizadora de sua escola. Jamais cogitara de seguir qualquer religião ou prestar contas à divindade. Não que fosse má pessoa. Ele simplesmente tinha seu jeito próprio de viver a vida.

É bem verdade que, depois da estabilidade financeira, haviam brotado em sua cachola algumas dúvidas filosóficas. Não se dispunha, entretanto, a esclarecê-las. E assim ia vivendo…

Até que viu aquele anúncio, em uma rede social, postado por uma creche mantida por entidade séria e bem conceituada. Era um desses apelos muito comuns da época natalina. Chamou sua atenção o fato de a entidade não estar pedindo dinheiro e sim buscando padrinhos que se responsabilizassem pelo presentinho de Natal de um de seus assistidos.

Interessou-se pelas atividades da creche e notou que as crianças eram atendidas em seu contraturno escolar. Enquanto os pais trabalhavam, os filhos iam à escola e depois passavam o resto do dia desenvolvendo atividades que melhoravam sua qualidade de vida e sua capacidade psicossocial.

— Está aí — pensou com seus botões — um trabalho que merece o apoio da sociedade. Quero participar desse projeto! — concluiu intimamente, enquanto buscava o click que deveria dar na tela do computador para se tornar um padrinho. O sistema selecionou uma criança e logo apareceu a carinha esperta e bem nutrida de Claudinha.

Sua tarefa seria comprar um kit padronizado, para que não houvessem privilégios ou diferenças entre os presenteados. Até aí tudo corria bem. Foi a um grande magazine procurar uma blusinha, uma legging e uma calcinha tamanho 10, um chinelinho número 35/36 e um kit de higiene pessoal.

O problema surgiu quando teve que cumprir o último item solicitado pela direção da creche: uma cartinha pessoal para a criança, que a motivasse a alcançar seus sonhos. A princípio parecia fácil, pois, sendo bom redator, Paulo não teria dificuldades em criar um pequeno texto, com palavras de fácil entendimento para uma criança.

Ao começar a escrever, no entanto, viu-se tomado de intensa e estranha emoção, a ponto de começarem a borbotar lágrimas que escorriam abundantemente em seu rosto.

— O que é isso? — perguntou-se Paulo, atônito. Nunca fui mole a ponto de me deixar envolver por qualquer apelo emocional.

Mas as incômodas e inusitadas lágrimas teimavam em atrapalhar a sua digitação. Entre uma interrupção e outra, Paulo conseguiu concluir a cartinha, juntou-a aos presentinhos e partiu para o local onde deveria entregar a contribuição.

Era um centro espírita, localizado bem no centro de sua cidade, onde facilmente encontrou o posto de recepção para os participantes da campanha.

Recebeu-o, amavelmente, a assistente social que havia bolado a campanha e ali estava de plantão, não apenas para receber as doações, mas também para conhecer os participantes e convidá-los para a cerimônia de entrega dos mimos. Seria uma oportunidade, argumentou a assistente, para ele conhecer e abraçar sua afilhada. Iriam muitas pessoas, principalmente os dirigentes da obra, todos voluntários, sem qualquer remuneração.

O pior aconteceu! Amavelmente, Cíntia, a assistente social, pediu permissão para examinar o enxoval e ler a cartinha dirigida à criança. Fazia parte da função dela manter a uniformidade dos presentes e examinar as mensagens dirigidas aos assistidos.

Paulo não teve como dizer não e, ao lado da assistente social, viu que as lágrimas debulhadas não eram somente dele. E formou-se ali uma patética dupla, chorando de emoção diante de um despretensioso pedaço de papel.

Foi quando se aproximou Ricardo, presidente da entidade e orador da palestra que iria acontecer dali a alguns minutos no salão principal do centro espírita. Descontraidamente, mas curioso, aproximou-se de Cíntia e de Paulo e perguntou por que estavam tão emocionados.

Assim que se inteirou do ocorrido, Ricardo, em tom sério, olhou diretamente nos olhos de Paulo e disse:

— Não estranhe, amigo. Isso acontece muito e é absolutamente normal.

— Desculpe-me, Senhor Ricardo, mas não está sendo nada normal. Acho que, em toda a minha vida, isso nunca aconteceu. Tem alguma explicação para mim?

Como ainda havia algum tempo para o início de sua palestra, Ricardo pediu licença a Cíntia e levou Paulo para um local afastado e explicou:

— Meu caro amigo. Em reuniões mediúnicas e nos nossos livros aprendemos que, quando fazemos algum bem para uma criança — como é o caso de professores, cuidadores ou doadores —, parentes que amam esses garotos, e já não estão mais entre nós, aproximam-se e nos abraçam, agradecidos pela ação que empreendemos em favor desse pequeno familiar.

Respeitosamente, Ricardo havia evitado termos mais específicos dos espíritas como desencarnados ou médiuns, para evitar constrangimentos ou invasão na seara ideológica de seu interlocutor. Paulo logo percebeu esse cuidado.

— Foi exatamente o que aconteceu com você e com Cíntia. Com certeza, vocês foram envolvidos pela gratidão de avós ou tios da Claudinha. Se você pôde detectar esse carinho, não deixe de comparecer à festinha de encerramento de final de ano, pois outros abraços poderão acontecer. Peço sua licença agora, pois tenho uma palestra a proferir.

Paulo ficou aguardando que Ricardo o convidasse ou tentasse convencê-lo a conhecer a Doutrina Espírita. Estranhando a ausência do proselitismo, tão usual em outras denominações religiosas, falou:

— Interessei-me por suas palavras, não vai me convidar para ouvi-lo?

— A honra seria muito grande e a nossa reunião é pública. Mas, não quis misturar as estações, pois você poderia interpretar meu convite como um preço a ser pago, por trás de seu gesto de bondade para nossa querida assistida. Já que se interessou, venha comigo, nossa casa está sempre aberta para novos frequentadores.

Paulo assistiu à palestra de Ricardo e à que veio em seguida, na mesma reunião. Encantou-se com a irretorquível lógica da doutrina que ali era professada e respondia as suas mais caras e secretas dúvidas filosóficas. Compareceu à festinha da creche e sentiu-se abraçado, não somente por Claudinha, como também por seus acompanhantes espirituais e por toda a equipe daquele abençoado núcleo social.

O ateísmo agnóstico perdera um de seus candidatos. Em compensação, o estudo e o trabalho social espírita haviam ganhado um novo participante.

***

Em todos os setores da vida — diz Emmanuel —, a preparação e o mérito devem anteceder o benefício.

O generoso coração e o desprendimento de Paulo levaram-no para caminhos que somente o esforço no bem, a disciplina de sentimentos e a iluminação do raciocínio podem nos proporcionar. Benditas lágrimas que regaram aquele bom espírito e o colocaram na direção da inesgotável fonte divina da felicidade!

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