— Muito planejamento, pouco “fazejamento”, costumava referir-se Richard Simonetti à distância que, infelizmente, costumamos manter entre a teoria e a prática.
Com relação especificamente à morte, entendo que ninguém tratou do assunto com mais profundidade e cuidado do que Richard. E nós, que, durante muitos anos com ele convivemos, participamos de suas palestras e programas de perguntas e respostas, tivemos o privilégio de assimilar, diretamente da fonte, todo o aprendizado do mestre.
Seria o caso de, confrontados com uma situação real, como foi o seu desencarne, estarmos plenamente preparados e tirarmos de letra a comoção a que se referiu Ernesto Bozzano, em seu livro A Crise da Morte. Não foi bem assim! Esquecemos, como diria Garricha ao técnico Vicente Feola, em 1958, de combinar com os russos.
Sinto-me constrangido e sou obrigado a confessar que, na hora de a onça beber água, a emoção tomou conta de meus sentimentos e este espírita aqui, de meia-pataca, diante do amigo e irmão que partia, abriu a boca e deixou que as lágrimas corressem pelo rosto.
Eu sei, eu sei que o caro leitor vai me chamar às falas, dizendo que meu comportamento destoou do que eu e Richard pregávamos, juntos. Defendo-me dizendo que os anos de parceria estavam sendo momentaneamente interrompidos, para, espero, uma futura retomada, na espiritualidade.
Aduzo, ainda, dizendo que eu estava manifestando, ali, o que Richard chamava de saudade limpa, destituída de apego, incapaz de criar qualquer teia de retenção, que pudesse segurá-lo mais tempo junto ao mundo material.
A verdade, porém, para valer mesmo, é que me senti como Boris Fausto, o notável historiador, professor e cientista político, um dos mais profundos conhecedores da história do Brasil, diante da avassaladora dor causada pelo falecimento de sua esposa Cynira, que, para ele, representou a amputação de um membro, sem anestesia.
Asseguro-lhes que a culpa não coube a Richard. Deduzo que haja ocorrido, entre ele e a espiritualidade, um acordo que o fez passar por doença de longo curso que nos preparou, a família e o nosso centro, para seu desencarne. Eu é que não entendi direito a mensagem e fui pego, como diria minha mãe, de calças curtas. Ele, com certeza, assim que desencarnou, a exemplo de Kardec e Herculano Pires, passou a transitar livre, leve e solto pelas plagas espirituais, com muita consciência.
Queria ter dito muita coisa a ele, assim como Camille Flammarion, no discurso pronunciado no túmulo de Allan Kardec. Não seria possível, pois a emoção não permitiria. Agora, um pouco mais equilibrado, limito-me a dizer que Richard Simonetti está colhendo os frutos de seus estudos, tanto desta encarnação, como de anteriores. Seus olhos se fecharam e não será mais ouvida a sua palavra. No entanto, Richard, todos nós vamos mergulhar nesse mesmo sono. Tombou seu corpo, permanece sua alma, agora de volta à morada espiritual.
A imortalidade é a luz da vida, como o Sol é a luz da natureza.
Se nos mantivermos seguindo seus passos, o seu espírito estará conosco, a nos motivar ao prosseguimento da sua obra com a mesma abnegação e sinceridade, embora sem tanto conhecimento e determinação.
Até breve, caro amigo e irmão Richard Simonetti, até à vista!
FONTES CONSULTADAS
Obras Póstumas, de Allan Kardec
Revista Espírita, maio de 1869, de Allan Kardec
Editorial RIE, março de 2018, de Orson Carrara