Artigos Espíritas

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Boa leitura! E que a mensagem espírita chegue cada vez mais longe!

Trajetória do espírito

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Índice

1 Surpresa dolorosa

2 Alinhamento doutrinário

3 Convite do bem

4 Esclarecidos não iluminados

5 Intercessões

6 Sublime trajetória de um ilumidado

Resumo

O percurso dos espíritos para a plenitude evolutiva não se dá sem a complexa oportunidade do renascimento. Poucos aceitam com resignação as provas e chegam mais depressa à meta que lhes foi assinalada. A maioria está resgatando ou aprendendo com as experiências humanas. Neste texto, traremos situações que surgem durante o processo evolutivo.

Palavras-chave

Perfeição. Reencarnação. Intercessões. Atos de amor. Bombas do sofrimento.

Surpresa dolorosa

Um dos momentos mais difíceis anotados por André Luiz, na sua obra A vida no mundo espiritual, foi o descrito no livro Ação e reação1. Ao lado de Hilário, ele estava visitando a Mansão Paz, escola de reajuste em que Druso era diretor.

O estabelecimento situava-se em regiões inferiores sob a jurisdição de Nosso Lar, no meio de atmosfera hostil e envolta por sombra espessa e densa, que se movimentava como se fosse ventania incessante. Aquele posto de socorro dedicava-se a acolher espíritos infelizes e enfermos, que poderiam se elevar a colônias de aprimoramento ou voltar à esfera terrena em busca de reencarnação retificadora.

De repente, André e Hilário tiveram uma surpresa dolorosa. De larga janela transparente, viram substância escura que se agitava na parte exterior do prédio transformar-se em formas monstruosas de rostos humanos. Proferiam impropérios e gemidos com gestos de horror e lançavam maldições, uns agarrados aos outros. O diretor Druso, tanto quanto André e Hilário, fitaram, piedosos e tristes, aquele quadro desolador.

Por que não descerrar as portas aos que gritam lá fora? Não é este um posto de salvação? – perguntou Hilário.

— Sim, mas a salvação só é realmente importante para aqueles que desejam salvar-se — respondeu Druso, consternado.

O diretor explicou que também ele tivera a mesma surpresa dolorosa, ao conhecer aquelas criaturas infelizes. Disse ainda que abrir as portas àqueles espíritos inferiores seria o mesmo que acolher tigres ferozes entre fiéis de um templo.

Quem eram aquelas criaturas? Seriam seres primitivos ou almas que haviam cometido grandes faltas? — perguntou André.

Às densas trevas aportam as consciências que se entenebreceram nos crimes deliberados, apagando a luz do equilíbrio em si mesmas. — respondeu Druso.

Detalhando o assunto, o diretor da instituição explicou que não eram seres simples, que haviam cometido erros naturais em suas experiências primárias e sim mentes que conheciam plenamente suas responsabilidades e delas se afastaram intencionalmente. Eram espíritos dotados de maldade calculada, ainda fixados na crueldade e no egocentrismo.

Alinhamento doutrinário

Paulo de Tarso, Allan Kardec e Emmanuel alinham-se doutrinariamente aos relatos de André Luiz. Se não, vejamos a sequência de esclarecimentos que nos trazem.

Na exegese da expressão Pois nós somos um santuário de Deus vivo2, o sábio Emmanuel3 descortina preciosos conceitos paulinos traçando nítida distinção entre os graus evolutivos dos espíritos que acorriam à Mansão Paz.

As ferozes criaturas que ameaçavam atacar a instituição dirigida por Druso são classificadas por Emmanuel como seres que desonraram o santuário vivo, isto é, ocuparam seus corpos carnais com material inadequado, absorvidos que estavam pelas preocupações imediatistas da esfera inferior. Obcecados pelas ilusões físicas, permitiram o erguimento de muros de egoísmo e de aflição que os impediram de escutar as advertências do Cristo. Com isso, chegaram à velhice e depois à morte, na condição de mendigos de luz e paz. No apagar das luzes terrestres, obrigados a acordar do mundo fantasioso em que se encontravam, assumiram posição de revolta e de desespero

Por que isso aconteceu se, conforme a palavra de Druso, tinham perfeito conhecimento de suas responsabilidades e delas se afastaram deliberadamente? É a palavra do Codificador que agora se faz presente, com o respaldo doutrinário da falange do Espírito Verdade:

— Não desejam esses espíritos abreviar seus sofrimentos? – pergunta Allan Kardec.

— Desejam-no, sem dúvida, mas falta-lhes energia bastante para quererem o que os pode aliviar. Quantos indivíduos se contam, entre vós, que preferem morrer de miséria a trabalhar?4

Pois que os espíritos veem o mal que lhes resulta de suas imperfeições, como se explica que haja os que agravam suas situações e prolongam o estado de inferioridade em que se encontram, fazendo o mal como espíritos, afastando do bom caminho os homens? – pergunta Allan Kardec.

— Assim procedem os de tardio arrependimento. Pode também acontecer que, depois de se haver arrependido, o Espírito se deixe arrastar de novo para o caminho do mal, por outros espíritos ainda mais atrasados.5

 

E quanto aos espíritos que foram recolhidos pela Mansão Paz? Embora ainda infelizes ou enfermos, eram criaturas resignadas, decididas a trabalhar pela própria regeneração, que, futuramente, ou teriam portas abertas para a continuidade de seu trajeto evolutivo em colônias de aprimoramento na vida superior, ou retornariam à esfera dos homens para a reencarnação retificadora.

São classificados por Emmanuel como seres que ouviram a palavra delicada e pura do Senhor, em seu santuário interno, cientes de que Ele continua ensinando e amando, orientando e dirigindo, os que, conforme afirmou Druso, desejavam salvar-se.

E quanto aos renitentes no mal, o que acontecerá com eles?

Aqui, Emmanuel utiliza curiosa expressão, que deverá ser analisada e absorvida por mim e por vocês, caros leitores:

— …. mas, porque a surdez prossegue sempre, chegam a seu tempo as bombas renovadoras do sofrimento (grifo nosso), convidando a mente desviada e obscura à descoberta dos valores que lhe são próprios, reintegrando-a no santuário de si mesma para o reencontro sublime com a Divindade.6

Convite do bem7

A forte expressão bombas renovadoras do sofrimento, de Emmanuel, não é gratuita, nem revela qualquer exagero, se levarmos em conta os incessantes convites sagrados dirigidos aos homens da Terra e além da Terra. Os chamamentos amorosos iniciam-se na infância, vêm através de pais amorosos, de professores, da leitura salutar, das instituições religiosas e até de amigos comuns.

Infelizmente, mesmo ouvindo os apelos do bem, raros são os espíritos que alcançam a maturidade sem dar ouvidos às requisições inferiores, esquecendo-se de deveres preciosos. Mesmo assim, as convocações continuam. O livro amigo, a palavra generosa de um companheiro fiel ou de um cônjuge responsável, procuram afastar os rebeldes dos indefectíveis desencantos da vida.

Os revoltosos descritos por André Luiz, em sua visita à Mansão Paz, são os que olvidaram o toque do clarim cristão, mesmo diante do aguilhão da necessidade.

Os resignados, acolhidos para o interior do posto de socorro, são os que atenderam ao ultimato das dores, não esperaram o açoite das sombras e puderam pleitear as seguras estradas luminosas da vida.

Estes, que aceitaram de bom grado os sagrados convites do bem, ao precisarem de novos caminhos de progresso nos campos da erraticidade ou quando solicitarem novas oportunidades reencarnatórias, sempre serão generosamente acolhidos pelas autoridades espirituais.

Esclarecidos não iluminados

Como é o planejamento de uma nova encarnação? A pergunta certa não deveria ser essa. Antes de mais nada deveríamos cogitar de quem estamos falando.

Qual o nível evolutivo do candidato a uma nova vida?

Trata-se de um espírito com débitos e ainda ligado às coisas da matéria que será submetido a uma reencarnação em moldes naturais e padronizados para todos? Ou se refere a companheiro não completamente bom, mas com valores de boa vontade, perseverança e sinceridade? Ou ainda, estamos falando de almas responsáveis, elevadas em cultura e espiritualidade, mesmo não necessitando mais reencarnar, que se predispõem ao mergulho na carne em missões de amparo e reajuste? Estudemos um pouco o funcionamento do Setor de Planejamento de Reencarnações.

Ensina-nos André Luiz8 que expressivo percentual de reencarnações no planeta Terra obedece a um padrão geral, de acordo com elementares regras evolutivas. No entanto, quando os arquitetos da espiritualidade se deparam com trabalhadores que não tinham perfeita noção de suas responsabilidades, haviam cometido faltas leves, delas se arrependeram e estavam decididos a buscar a própria regeneração, o processo reencarnacionista é mais complexo.

Muitos deles, não completamente bons e redimidos, são entidades em débito, mas que já estão esclarecidas quanto à sua situação. Ainda não estão iluminadas, mas revelam valores de boa vontade. Em vista disso, em razão de seus méritos, ainda que limitados, é possível que esses espíritos venham a desfrutar de acompanhamento especial em suas próximas viagens reencarnatórias.

Intercessões

Existe mais uma espécie na subdivisão das classes de espíritos que se candidatam a uma nova experiência carnal. São aqueles que, além de ter razão esclarecida, embora não iluminada, permanecem na erraticidade em estado de queda, mas contam com a intercessão de corações dotados de consideração do plano espiritual elevado, que bem conhecem o candidato à reencarnação e que se propõem a ser dele uma espécie de orientador particular, atuando pela via da inspiração para auxiliar seu tutelado.

Com o trabalho intercessório desses reconhecidos benfeitores, que avalizam as promessas de serviço regenerador, essas criaturas poderão voltar à escola física, mesmo que sejam originados de regiões baixas, ainda que tenham retornado da esfera carnal em amargas condições.

Os generosos servidores do instituto de planejamento esperam que as preciosas oportunidades oferecidas sejam correspondidas pelos agraciados por processos intercessórios. Caso contrário, irão amargar novo retorno às regiões inferiores além do corpo físico, para longa permanência onde se projetam as consciências culpadas, em dolorosas condições, até que efetivamente se habilitem ao mecanismo da justiça indefectível.

Sublime trajetória de um iluminado

— Ah! Se as almas encarnadas pudessem morrer no corpo, alguns dias por ano, não à maneira do sono físico em que se refazem, mas com plena consciência da vida que as espera!…9

Essas palavras foram ditas por Hilário, dirigidas ao dirigente Druso, diante da romagem de espíritos rebelados que rodeavam a Mansão da Paz.

Como seria a trajetória de um espírito que já morreu e remorreu inúmeras vezes e tomou plena consciência do projeto de renovação em que estava inserido? Provavelmente, tomando por referência a experiência de Druso, que atenciosamente descrevia aos seus pupilos a sua experiência e a complexidade do renascimento, poderíamos nos arriscar a dizer que tudo começou com o seu ingresso, na condição de enfermo grave, em posto de socorro da espiritualidade.

Esse indivíduo, consciente de erros pregressos, movido agora pela resignação e da sincera intenção de superar o passado turbilhonado e tenebroso, assim que recuperado do desligamento terrestre agarrar-se-ia à primeira oportunidade de trabalho que se lhe apresentasse. Faria do hospital que o acolheu uma escola e atuaria como padioleiro, cooperador da limpeza, enfermeiro, professor, magnetizador, até que arregimentasse méritos para novas funções.

A partir do momento em que essa alma estivesse investida no conhecimento da verdade e da justiça, tornar-se-ia, naturalmente, copartícipe do divino processo de edificação do bem na Terra. Como seria o processo reencarnatório de semelhante criatura?

O processo da reencarnação é especial para almas que se elevaram em cultura e conhecimento, quando se dispõem voluntariamente, por amor aos encarnados, ao retorno carnal. Por que tamanhos cuidados? Afinal de contas, há companheiros de grande elevação que quase dispensam o concurso dos arquitetos do serviço reencarnacionista. Mesmo assim, servidores dedicados inclinam-se, respeitosamente, diante do porvir desses aliados do bem.

Não por favor ou protecionismo, mas porque esses espíritos já aprenderam o caminho da auscultação de si mesmos, traçado por Jesus para o verdadeiro progresso da alma. São trabalhadores que demoraram séculos no serviço de iluminação íntima e não se detiveram no processo de aquisição de ideias e possibilidades, porém se tornaram responsáveis, com a luz do raciocínio, regada pela luz do amor.

São fiéis servidores que já compreenderam quão complexa é a oportunidade de renascer, que exige intensas atividades dos benfeitores espirituais, e que, ao mesmo tempo, entenderam a importância da existência carnal como verdadeiro favor da Divina Misericórdia.

Fiquemos com Emmanuel10:

A reencarnação é um estágio sagrado de recapitulação das nossas experiências e (…) a Doutrina Espírita, revivendo o Evangelho do Senhor, é facho resplendente na estrada evolutiva, ajudando-nos a regenerar o próprio destino, para a edificação da felicidade real.

 

 

Referências:

1 – LUIZ, André. Ação e reação. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. 15. Ed. Cap.1 “Luz nas sombras”. Pg.14. Julho de 1993. FEB.

2 – TARSO, Paulo de. Novo Testamento. II Coríntios, 6:16.

3 – EMMANUEL. Vinha de Luz.  Psicografia de Francisco Cândido Xavier.      10. Ed. Agosto de 1987. Lição 138. Pg.289. “Iluminemos o santuário”. FEB.

4 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Cap. II. Penas e gozos futuros. Questão 995-a. Trad. Dr. Guillon Ribeiro – Ed. 18. 1942. FEB.

5 – KARDEC, Allan – idem. Questão 996.

6 – EMMANUEL. Vinha de Luz.  Psicografia de Francisco Cândido Xavier.      10. Ed. Agosto de 1987. Lição 138. Pg.290. “Iluminemos o santuário”. FEB.

7 – EMMANUEL. Pão nosso. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. Edição de 1950. Lição 39. Pg. 89. “Convite ao bem”. FEB.

8 – LUIZ, André. Missionários da Luz. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. 22. Ed. Cap. 12. “Preparação de experiências”. Pg. 154. Março de 1990. FEB.

9 – LUIZ, André.  Ação e reação. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. 15. Ed. Cap.1 “Luz nas sombras”. Pg.14. Julho de 1993. FEB.

10 – EMMANUEL. Prólogo do livro Ação e reação de André Luiz. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. 15. Ed. Julho de 1993. FEB.

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