Artigos Espíritas

A mensagem do espiritismo para uma vida melhor

Sidney contribui para diversos órgãos da imprensa espírita e laica, produzindo artigos para reflexões oportunas em todas as épocas. Todos os artigos estão disponíveis nesta seção para você compartilhar em suas redes sociais ou, no caso de jornais e boletins espíritas, utilizar livremente em suas publicações, com a gentileza de citar o crédito do autor.

Boa leitura! E que a mensagem espírita chegue cada vez mais longe!

Visão retrospectiva do passado

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Resumo

Muitos dos nossos problemas decorrem do passado. Embora o esquecimento seja providencial, para que o planejamento da atual encarnação não sofra interferências indevidas, em especiais circunstâncias é possível buscar a chamada catarse por intermédio da recordação parcial de vidas anteriores. Noticia-nos a Revista Espírita1 de Allan Kardec, numa época em que não se conheciam as experiências sobre a regressão da memória, que no plano espiritual o espírito pode ser magnetizado para obter recordações do passado, em gradativo processo de recuperação da plenitude de sua memória.

Palavras-chave

TVP – Terapia de vivências passadas. Retrospectivas. Plano espiritual. Psicologia. Freud. Espiritismo. Memória integral.

 

Freud

De maneira bem singela, sem maiores compromissos de erudição, podemos situar nas descobertas e conclusões de Freud os primeiros progressos na busca de soluções viáveis para os problemas e dificuldades ao entendimento da vida e de suas enfermidades.

A partir de 1914, Freud passou a se utilizar da expressão compulsão à repetição, referindo-se a um dos conceitos fundamentais de toda a sua obra, como uma espécie de impulso cego de repetir experiências e situações anteriores. O sintoma, afirma um de seus seguidores, é uma palavra que pede para ser ouvida e a repetição é a insistência desse pedido.

Trazer o trauma inicial à consciência e tratá-lo, liberando o paciente das desvantagens dessa relembrança. Essa é a operação delicada a ser executada por um terapeuta consciente, cuidadoso e capaz. Esse é o princípio da teoria padrão da psicanálise. Geralmente, pensavam os mais tradicionais, essas experiências emocionais haviam ocorrido na infância ou no período uterino do paciente. Essa teria sido a primeira força da psicologia e da psicanálise, seguidas da psicologia comportamental e depois da psicologia humanista.

 

Psicologia transpessoal

Fala-se agora da psicologia transpessoal, uma espécie de unificação de ideias e doutrinas diversificadas, abarcando os conteúdos de muitas escolas psicológicas. A psicologia transpessoal tem por objetivo o estudo da consciência em seus estados não ordinários – alterações de estados comuns ou sobrenaturais -, entendendo que o ser humano precisa ir além da sua mente, conectando-se com realidades mais abrangentes. No Brasil, o estudo desses estados não ordinários encontrou receptividade no movimento espírita, mormente o dedicado aos principais pontos de relação entre a Terapia de Vivências Passadas e o Espiritismo.

A TVP insere-se na abordagem da Psicologia Transpessoal como um ramo mais recente da Psicologia que considera o componente espiritual como uma das dimensões do ser humano, que interfere no entendimento do homem e de seus sofrimentos. A maioria dos problemas da vida atual decorre de situações traumáticas que foram vividas pelo indivíduo no passado e que deixaram marcas profundas no seu psiquismo.

Terapia de vivências passadas

Embora transcorridos mais de vinte séculos dos primeiros relatos gregos sobre a reencarnação, corroborados depois pelos evangelhos cristãos, o mundo atual ainda encara com cepticismo a ideia de Platão, discípulo de Sócrates, de que existe algo como viver de novo e que os vivos nascem dos mortos. Não obstante a reencarnação ser realidade amplamente aceita desde a Antiguidade em países orientais e depois, a partir do século XIX, ser esmiuçada pelo Espiritismo, coube à ciência buscar alternativas para as curas de traumas e doenças aparentemente sem causa — também denominadas idiopáticas —, exatamente pelo estudo de uma terapia que considera a multiplicidade de existências corpóreas.

Nem sempre, estão concluindo desassombrados cientistas da modernidade, o trauma inicial causador de desagradáveis sintomas encontra-se na infância ou na vida intrauterina. Fobias, síndrome do pânico, distúrbios comportamentais, transtornos obsessivos (TOC), depressão, ansiedade e outros são patologias que estão sendo estudadas à luz da reencarnação, com excelentes resultados e progressos animadores.

Magnetismo

Da mesma forma, as práticas de Mesmer — sistematizador do magnetismo animal no século XVIII —, estudadas profundamente por Allan Kardec antes de codificar o Espiritismo, passaram a ser consideradas pela ciência e filosofias da atualidade como terapia complementar, na forma do chamado toque terapêutico, similar ao johrei dos messiânicos, do reiki dos japoneses — embora a terminologia original seja chinesa — e do passe espírita. O tratamento auxiliar pela imposição de mãos, tal qual era executado por Jesus, passou a ser praticado e aceito por universidades e hospitais de expressivo contingente de comunidades científicas.

Cuidados com a TVP

O processo de regressão da memória somente deve ser executado por profissionais especializados, mormente da área psíquica, como psiquiatria, psicologia e terapias afins, em locais adequados e aprovados pela ciência médica, principalmente por causa dos cuidados que exige, pela necessidade do esquecimento do passado, por interferências inadequadas nos processos de sofrimento ou simplesmente por causa da curiosidade.

Não basta lembrar o passado. A terapia exige monitoramento criterioso dos efeitos da relembrança, cujo tratamento inadequado pode provocar irreversíveis danos no psiquismo do paciente. A investigação do passado com finalidade fútil compromete a terapêutica, ao atender o leviano desejo de identificar o que fomos ou o que fizemos em vidas pretéritas.

Esquecimento providencial

Alerta-nos o Espiritismo2 que o homem não pode, nem deve tudo saber. O esquecimento proporciona abençoado véu que cobre inoportunas lembranças que provocariam sérios transtornos ao desenvolvimento do projeto reencarnatório. Não seria o caso, então, de fugirmos de qualquer relembrança? Considerando que o esquecimento é providencial, por que deveríamos, como se fôssemos aprendizes de feiticeiros, revolver o passado? Os argumentos são decisivos no sentido de que a falta de lembrança concorre adequadamente para o progresso do espírito, poupando-o de recordações comprometedoras e indesejáveis.

Ocorre que, mais adiante, em outra resposta de O Livro dos Espíritos3, mentores espirituais falam de uma espécie de exceção, a permitir que algumas lembranças possam ser reveladas, desde que haja autorização de espíritos superiores, em determinadas circunstâncias, contanto que exista finalidade útil e jamais para satisfazer vã curiosidade.

Há que se considerar, ainda, que a TVP não desvenda existências inteiras. Ela apenas levanta uma ponta do véu, como se fosse flashe ou slide, a fim de proporcionar ao paciente a superação de traumas pontuais que lhe causam embaraços.

A TVP está se expandindo velozmente e tende, se exercitada com critério e parcimônia, a contribuir para a cura e o reconhecimento da reencarnação como lei natural.

Doutor Cailleux

Enganam-se, no entanto, os que situam somente nos estudos contemporâneos o processo de resgate de lembranças pretéritas e de limpeza de traumas que prejudicam o momento atual do espírito. Em maio de 1866, o Doutor Cailleux, espírito de médico muito estimado, manifestou-se através do médium Morin, trazendo preciosas revelações, que foram registradas por Allan Kardec na Revista Espírita4.

A comunicação iniciou-se com agradecimento dirigido aos componentes da Sociedade Espírita de Paris pelas preces a ele dirigidas durante o seu passamento. Narrou o teor de suas novas obrigações, no plano espiritual, com constantes chamamentos, não para cuidar de corpos doentes, mas para levar alívio às doenças da alma. Podia agora transportar-se de um ponto a outro com a mesma velocidade de seu pensamento.

A seguir, passou a descrever, pormenorizadamente, invulgar situação a que havia sido submetido recentemente. Sentiu-se transportado no espaço e chegar a lugar indescritível com palavras humanas, onde havia espíritos reunidos que, em vida, haviam conquistado celebridade pelas descobertas realizadas.

A narrativa do Dr. Cailleux foi interrompida, com a promessa de sua complementação.

Ele por ele mesmo

No encontro seguinte, dando continuidade à exposição, o médico descreveu estado semelhante ao de um sono lúcido, em que seu espírito experimentou entorpecimento, em razão de magnetização por fluidos de amigos espirituais. Viu o passado formar-se no presente e reconheceu individualidades que haviam desaparecido no correr dos tempos.

Vi — descreve Dr. Cailleux — um ser começar uma obra médica, outro mais tarde continuar a obra, apenas esboçada pelo primeiro, e assim por diante. Cheguei a ver, em menos tempo do que vos estou a falar, formar-se, no decorrer das idades, aumentar, e tornar-se ciência, o que, no princípio, não passava dos primeiros ensaios de um cérebro ocupado com o estudo do alívio do sofrer humano. Vi tudo isso, e quando cheguei ao último destes seres que tinham trazido, sucessivamente, um complemento à obra, reconheci-me então. Aí tudo se apagou, e voltei a ser o espírito, ainda atrasado, do vosso pobre doutor.

Revelação surpreendente

A sequência do relato surpreendeu os mais experimentados membros da Sociedade Espírita de Paris e até mesmo o codificador, que ali encontrou material de indizível importância para seus estudos. Dr. Cailleux falou do sono espiritual que o havia conduzido a visões de diferentes corpos que outrora ele havia animado, a partir de limitado número de encarnações a que teve acesso. Sua encarnação mais recente não fora programada para aumentar o seu saber e sim para praticar o que havia teorizado no plano espiritual.

Magnetização e sono dos espíritos

Assim como os sábios pressentem o descortinar de horizontes à medida que se elevam nas alturas do conhecimento, a Doutrina Espírita abre perspectivas indescritíveis àquele que se debruça na intensidade e no aprofundamento da obra da codificação. Das revelações do Dr. Cailleux, fielmente descritas por Allan Kardec na Revista Espírita, depois consolidadas em seu pentateuco básico, depreendem-se conceitos até então inéditos.

Em primeiro lugar, o ensinamento de que espíritos desencarnados podem ser magnetizados por outros espíritos. Naquele caso, pela maturidade espiritual do Dr. Cailleux, a magnetização e a indução ao sono haviam sido proporcionadas por entidades elevadas, com a deliberada intenção de trazer novos esclarecimentos ao médico, que se incumbiria de transmiti-los aos homens encarnados.

Essa informação sobre o sono resultante de magnetização foi depois citada em comentários específicos de André Luiz, na descrição da vida no mundo espiritual, ao falar da fadiga que alguns desencarnados sentem ao se dedicar a determinadas atividades de cunho material, que exaurem suas energias e exigem repouso.

A recordação de várias encarnações, proporcionadas ao Dr. Cailleux por seus guias espirituais, apresentou-se tal qual um sonho.

Visão retrospectiva

Em segundo lugar, o ensinamento de que o estado magnético a que o Dr. Cailleux foi submetido lhe proporcionou ricos conhecimentos oriundos de suas existências passadas, conforme atestam novos esclarecimentos contidos na Revista Espírita de junho de 18665.

Um dos correspondentes de Kardec, da cidade de Lyon, lhe escreveu estranhando que o Espírito Cailleux, em sua comunicação, deu a entender que ele não conhecia suas vidas pretéritas quando, em O Livro dos Espíritos, o codificador teria dito que, depois da morte, a alma vê e apreende num golpe de vista suas passadas migrações. Haveria ali uma contradição?

Allan Kardec esclareceu que, mesmo em se tratando de espírito adiantado, o passado não lhe é colocado à disposição subitamente, assim que adentra o mundo espiritual. Com o Dr. Cailleux as coisas se passaram exatamente de acordo com o seu potencial evolutivo, com acesso limitado a período de vidas anteriores e a informações que teria condições de assimilar e administrar. Não existira, portanto, qualquer contradição.

Outro aspecto destacado por Kardec foi que o médico havia morrido há relativamente pouco tempo, insuficiente para que retratasse claramente suas memórias. Além disso, não se tratava de uma simples lembrança e sim da revivescência das individualidades que havia animado, em contato direto com suas antigas formas perispirituais, processo que exige alto preparo e discernimento.

Allan Kardec encerrou o assunto mencionando que observações ulteriores às suas anotações em O Livro dos Espíritos já haviam complementado os princípios originais que havia lançado.

Corroboração científica

Décadas atrás, ainda criança, quando recebi as primeiras noções do conhecimento espírita, jamais imaginaria que hoje poderíamos encontrar, em rápida e simples pesquisa virtual, estudos, anúncios e cursos, ministrados por profissionais espíritas e não espíritas, falando livremente da reencarnação e do magnetismo, utilizando-se de técnicas contempladas tanto em obras da codificação como complementares, por cientistas da atualidade, que dão continuidade a esses estudos.

A ciência de hoje está provando que as leis do magnetismo são as mesmas. Se houve evolução nas técnicas de relaxamento e hipnose, que permitem o acesso a informações do passado com mais segurança e aplicação terapêutica, porquanto as condições atuais são muito mais avançadas, o ensino de nossos guias espirituais está sendo corroborado no fundo e na forma.

Acresceram-se privilegiadas informações trazidas do mundo espiritual através da extraordinária mediunidade de Francisco Cândido Xavier. Basta citarmos tão somente a coleção A Vida no Mundo Espiritual, do espírito André Luiz, para testificar tanto as anotações iniciais de Allan Kardec, como seus desdobramentos, contidos na Revista Espírita, disponibilizadas ao nosso conhecimento por intermédio da competente tradução de Evandro Noleto Bezerra.

Conclusão

À guisa de conclusão deste texto sobre esse fascinante tema, do qual, reconhecemos, mal aprendemos as primeiras linhas, gostaríamos de relembrar experiência registrada pelo espírito André Luiz, em sua monumental obra Nosso Lar6.

Dirigindo-se à Senhora Laura, mãe de Lísias, que o acolheu em sua residência como se fosse sua mãe, na Colônia Nosso Lar, André indagou o motivo por que, até aquele momento, não havia tido acesso ao seu passado espiritual.

— A senhora recordou o passado, logo após sua vinda, ou esperou o concurso do tempo?

A resposta da honorável matrona não se fez esperar. Informou que precisou despojar-se de impressões físicas e de camadas de inferioridade, para que adquirisse o necessário equilíbrio para recordar e fazer bom uso de suas reminiscências.

Nem sempre estamos preparados para enfrentar, com segurança, os crimes que cometemos ou de que fomos vítimas, sob pena de desequilíbrio e loucura.

— A senhora recordou o passado de maneira natural? — perguntou André Luiz.

Explicou Dona Laura que, quando ela e o marido Ricardo tiveram suas visões interiores mais aclaradas, as vagas lembranças começaram a lhes trazer preocupações. Depois de minucioso exame, técnicos do Ministério do Esclarecimento lhes deram acesso aos arquivos de anotações particulares. O chefe do setor de recordações recomendou que, durante dois anos, lessem suas memórias, abrangendo o período de três séculos, pois ainda não estavam preparados para suportar mais lembranças.

— E bastou a leitura para que tomassem posse de suas reminiscências?

Paciente, Dona Laura explicou que foram submetidos a operações psíquicas, por intermédio de passes no cérebro, que despertaram suas energias adormecidas.

— Ricardo e eu ficamos senhores de trezentos anos de memória integral. Compreendemos, então, quão grande é ainda o nosso débito para com as organizações do planeta.

Encerramento

Tanto no espaço espiritual, como no material, estaremos falando do mesmo magnetismo, da mesma exteriorização de corpos fluídicos, do mesmo desprendimento de almas que, pelas mesmas leis, recebem permissão do Alto para renovação de memórias, energias e forças, na continuidade do processo evolutivo. É insuficiente, todavia, somente recordar o passado. Sob o acompanhamento de terapeutas especializados, daqui e do Além, o equilíbrio e a reflexão serão valiosos instrumentos para a administração das reminiscências, fazendo delas precioso impulso ao planejamento e à renovação de vidas, em direção ao progresso infinito.

 

Referências:

1 – KARDEC, Allan. Revista Espírita – maio de 1866. Visão Retrospectiva das Várias Encarnações de um Espírito. Sono dos espíritos. Pelo Dr. Cailleux. Sociedade Espírita de Paris, 11 de maio de 1866 – Médium: Sr. Morin. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB.

2 – KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questão 392. Trad. Dr. Guillon Ribeiro – Rio de Janeiro – FEB.

3 – IDEM, Questão 399.

4 – KARDEC, Allan. Revista Espírita – maio de 1866. Visão Retrospectiva das Várias Encarnações de um Espírito. Sono dos espíritos. Pelo Dr. Cailleux. Sociedade Espírita de Paris, 11 de maio de 1866 – Médium: Sr. Morin. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB.

5 –KARDEC, Allan. Revista Espírita – junho de 1866. Visão Retrospectiva das Várias Encarnações de um Espírito. A propósito do Dr. Cailleux. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. FEB.

6 – LUIZ, André. Nosso Lar. Psicografia de Francisco Cândido Xavier. 31. Edição. Copyright 1944 by Federação Espírita Brasileira. Brasília-DF.

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