Artigos Espíritas

A mensagem do espiritismo para uma vida melhor

Sidney contribui para diversos órgãos da imprensa espírita e laica, produzindo artigos para reflexões oportunas em todas as épocas. Todos os artigos estão disponíveis nesta seção para você compartilhar em suas redes sociais ou, no caso de jornais e boletins espíritas, utilizar livremente em suas publicações, com a gentileza de citar o crédito do autor.

Boa leitura! E que a mensagem espírita chegue cada vez mais longe!

Matemática divina

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Índice 

1 Prolongamento da vida

2 Matrizes do sofrimento humano

3 Constituição do ser

4 Resposta fraterna

5 Dores espirituais

6 Hábitos

7 O que não pode ser mudado

8 Um caso de moratória

9 A história de Adelino

10 Resignados ou rebeldes?

11 Um teste: expiação ou provação?

12 Um nobre exemplo

13 Magnífica presença

Prolongamento da vida

No século XIX ocorreram significantes avanços medicinais, no conhecimento da anatomia humana, na prevenção e cura de doenças. Ocorreu vertiginoso crescimento da expectativa de vida na Europa, a ponto de dobrar sua população. Londres tornou-se a maior cidade do mundo, chegando a quase sete milhões de habitantes no final do século.

A partir de então surgiram o raio X, a ressonância magnética, a tomografia computadorizada, a fluoroscopia e a ecografia, que permitem o exame detalhado de estruturas anatômicas. A ampliação dos conhecimentos em torno do corpo humano contribuiu enormemente para as curas e o alívio das dores de doenças e insuficiências.

Novas doenças

Não obstante esses incontestáveis progressos, infelizmente a ciência ainda não consegue prevenir e curar todos os males humanos. A comunidade científica empenha-se para descobrir mais informações sobre mutações, variantes e cepas emergentes dos vírus atualmente conhecidos, a fim de aperfeiçoar medicamentos e vacinas.

Parece, no entanto, que o ambiente humano é propício ao aparecimento de novas doenças. Vejamos, por exemplo, o surgimento de um novo tipo de hepatite aguda infantil. Os casos registrados em vários países, de causas ainda ignoradas, parecem não ter qualquer relação com os vírus já conhecidos.

O mesmo desconhecimento persiste com relação às doenças e deficiências inatas, muitas vezes sem antecedentes genéticos, geralmente atribuídas a distúrbios do metabolismo.  É o caso, por exemplo, de bebês que nascem com atresia tricúspide, uma cardiopatia congênita por ausência de conexões ou imperfuração de válvulas cardíacas.

E as doenças idiopáticas, sem lesões físicas, caracterizadas por queixas e sintomas, sem que a medicina consiga encontrar o agente que as justifique? Infelizmente, mesmo com os modernos estudos científicos, a medicina ainda se debate diante da inexistência de recursos para diagnosticar as doenças sem causas definidas. Ao lado das enfermidades oriundas de lesões patológicas, existem as que podem se manifestar sem qualquer dessas anomalias.

Por que o homem ainda sofre?

Com todos os progressos do século atual, o homem ainda sofre. Por que razão? Talvez porque não esteja procurando no lugar certo a causa principal de seus sofrimentos e tão somente cuidando dos efeitos. As verdadeiras matrizes das dores humanas encontram-se fora de seu corpo e podem anteceder, inclusive, a sua formação. Homens de saber, não necessariamente vinculados a correntes religiosas ou filosóficas, estão chegando à conclusão de que as raízes das provações encontram-se no corpo espiritual.

Matrizes do sofrimento humano

— Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem também tratarem do espírito. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem.

Essas palavras foram pronunciadas por Sócrates, sábio grego, e registradas por Platão, cerca de quinhentos antes dos ensinamentos do Cristo. Quase da mesma forma, pronunciou-se o médico e filósofo grego Hipócrates:

— Se alguém te procurar em busca de saúde, pergunta-lhe
primeiro se está disposto a evitar as causas da doença; em caso
contrário, abstém-te de o ajudar.

Em algum momento, entre 385-370 a.C., no livro Fedro, Platão faz Sócrates enunciar, na metáfora da carroça, da parelha e do cocheiro, que o ser humano tem um corpo intermediário entre a alma e a organização física.

Assim como os filósofos gregos, pensadores de muitas culturas antigas, como os taoístas e indianos, teósofos e mesmo Paulo de Tarso, aceitavam a existência de um corpo intermediário invisível, cada qual com sua denominação.

Mais recentemente, por volta de 1944, russos admitiram a existência de um quarto estado da matéria nos seres vivos. Em 1968, descobriram que todas as coisas vivas possuem não só um corpo físico, constituído de átomos e moléculas, mas também um corpo energético equivalente, a que dão o nome de Corpo do Plasma Biológico. O cientista brasileiro Hernani Guimarães Andrade o denominou de MOB – Modelo Organizador Biológico, por sua capacidade de orientar e manter a estruturação da forma do ser vivo.

As conclusões de cientistas, de ontem e de hoje, são perfeitamente concordes, em termos quase idênticos, com o pensamento de Allan Kardec, codificador do Espiritismo, exposto em 1857, de que o ser encarnado é composto do espírito, do perispírito e de um corpo físico.

Como vemos, não apenas os sábios da Antiguidade admitiam que a estrutura e a ordem dos corpos físicos originam-se de um corpo invisível. Sua existência está sendo aceita e comprovada por inúmeros cientistas, que reconhecem a existência de um corpo imperceptível, entre a alma e o corpo, que assimila e registra todos as atitudes do homem, sejam elas positivas ou negativas, que afetam e passam a afetar o seu equilíbrio físico, psíquico e emocional.

O Espiritismo veio esclarecer meticulosamente todos esses estudos, ordenando-os, mostrando que a vestimenta do espírito, o perispírito, funciona como uma espécie de esponja, em que se acumulam boas ou más ações do homem.

Essas, as más ações, que poderíamos denominar, metaforicamente, de pontos escuros da alma, serão as responsáveis pelo surgimento de deficiências e doenças.

Constituição do ser

O espírito quer, o perispírito transmite e o corpo executa. O espírito tem, portanto, dois invólucros: o primeiro é o perispírito e o segundo o corpo físico. O perispírito é o transmissor das sensações que vêm do exterior, que são captadas pelo corpo material e recebidas pelo espírito. É também o intermediário entre o que provém do espírito e se manifesta no corpo. Nem todas as filosofias e religiões, no entanto, aceitam essa realidade.

Máculas da alma

Outras crenças entendem que a alma surge no momento da concepção. Isto é, com o nascimento do corpo, nasceria também a alma, aqui representada, metaforicamente, como um círculo branco. Cada pecado cometido nesta vida corresponderia a um ponto cinza a macular essa hipotética esfera.

Segundo essa teoria, e considerando-se a matemática divina, ao fim da vida física, caso venhamos a cometer mais ações negativas do que positivas, a alma estará em débito, isto é, recheada de manchas, com destino irremediavelmente traçado para o inferno eterno.

Misericórdia divina

Semelhante raciocínio é incompatível com a misericórdia divina, com a bondade do Pai enunciada por Jesus. Representa a negação da vontade de Deus.

Sócrates, filósofo grego, afirmava, conforme nos chegou através dos escritos de Platão, que a alma já existe antes da existência física e que, após a morte, é reconduzida a esta vida em múltiplos e longos períodos.

Da mesma forma manifesta-se o Espiritismo ao afirmar que que já existimos antes da vida material e que vamos passar por muitas encarnações, a fim de adquirimos sabedoria e espiritualidade, em contínuo processo evolutivo.

Pontos escuros

Se bem notarmos, a metáfora dos pontos escuros da alma, defendida por várias correntes ortodoxas, não está totalmente errada. Excetuando o fato de que jamais Deus nos impingiria uma pena vingativa e eterna, vamos encontrar em várias obras de André Luiz a informação de que o organismo perispiritual pode absorver elementos de degradação que lhe corroem os centros de força, com reflexos sobre as células materiais.

Enquanto a medicina terrestre cuidar apenas do corpo, sem tratar das causas espirituais, estará girando em círculos, sem atingir a verdadeira origem das enfermidades.

A matemática divina não nos entrega problemas que não tenhamos criado, nesta ou em vida anterior. Quando nos conscientizarmos da operação algébrica, onde o mais anula o menos, estaremos habilitados a usar o alvejante da prática do bem e da confiança em Deus, que limpará todas as causas de nossas doenças.

A partir daí, a esponja do nosso corpo perispiritual não mais absorverá erros e desvios, pois estaremos dando os primeiros passos em direção à saúde integral.

Resposta fraterna

A idosa senhora aproximou-se do líder religioso e perguntou:

— Meu neto nasceu com úlceras intestinais e pode ser que passe a vida inteira em tratamento. Por quê? Ele nada fez de errado. Nasceu agora. Por que Deus lhe impôs esse sofrimento?

— Minha filha — começou a falar o experiente religioso. Submeta-se resignadamente à vontade de Deus, cujos mistérios ainda são insondáveis.

Ainda que aquele bondoso conselheiro tivesse conhecimentos em torno da lei de causa e efeito e da reencarnação, seus votos sacerdotais o impediriam de enveredar pela área da preexistência da alma. A sua resposta foi lógica, de acordo com as suas convicções ortodoxas. Como aquela avó, no entanto recebeu aquelas palavras? Decepcionada, pelas limitações a que o seu interlocutor estava sujeito.

Explica a Doutrina Espírita

Quando vemos uma criança que acabou de nascer, não imaginamos que ali se encontra um espírito que passou por muitas vidas, com os acertos e desacertos do passado. Se por acaso, por exemplo, envolveu-se em algum ato agressivo, ferindo alguém, essa atitude se fixará em seu organismo perispiritual e provocará dolorosas consequências.

Cada dor, agressão ou mágoa que provocamos em nossos semelhantes volta em forma de doenças ou deficiências nos corpos de futuras vidas. Não se trata de castigo divino e sim de mero efeito negativo oriundo de causa negativa.

Ao praticar qualquer ação, estaremos lançando um bumerangue, que retornará para nós mesmos, com o bem ou o mal que praticarmos.

Para compreender esse mecanismo divino, no entanto, torna-se necessário admitir que antes do nascimento já vivemos e trazemos para a atual vida exatamente o que semeamos no passado. A aceitação da preexistência da alma e das sucessivas encarnações são elementos indispensáveis para entendermos as causas das doenças e deficiências inatas.

Sem esse conhecimento, resvalaremos para a revolta e a suposta injustiça de Deus aplicada a uma criança que acabou de nascer, cujo espírito já viveu e errou muitas vezes.

A alma preexiste e sobrevive ao corpo físico, e viverá tantas vezes quantos forem necessárias à depuração de suas faltas, em direção ao seu adiantamento.

Dores espirituais

Esteves e Júlio ingeriram veneno. Ao chegarem ao plano espiritual, cada um deles experimentou efeitos muito diferentes. Júlio sofreu ingentes dores na glote, que perduraram por três existências seguidas, enquanto Esteves não sofreu consequências mais graves. Por que essa disparidade de impressões entre os dois espíritos?

Esclarece André Luiz, no livro Entre a Terra e o Céu, que é preciso considerar as causas das lesões. Esteves foi envenenado, isto é, vítima de envenenamento por outra pessoa, enquanto Júlio se envenenou, tornou-se vítima de si mesmo. Os pontos escuros que surgem, quando prejudicamos a nós mesmos ou a outrem, fixam-se no corpo intermediário (perispírito).

O suicida carrega, além do complexo de culpa, os desequilíbrios do corpo intermediário, que são sentidos durante a permanência do espírito no plano espiritual e também vão moldar, imperfeitamente, o corpo físico de uma próxima encarnação.

Aritmética sublime

Outro caso em que André Luiz cita as nódoas perispirituais — no livro Missionários da Luz — é o de um espírito cujo fígado encontrava-se profundamente afetado. Parte do órgão estava encoberta por nuvens escuras, atingindo a vesícula biliar, o duodeno e o pâncreas, com profundas alterações no processo digestivo, provocadas por suas perturbações mentais e inquietações íntimas.

Mais uma vez a extraordinária aritmética divina se fez presente, pois os valores positivos preponderaram, a ponto de contrabalançarem os valores negativos e viabilizarem a assistência dos espíritos, que foram desfazendo, pouco a pouco, as nuvens escuras, que foram se tornando opacas e desapareceram, retornando o organismo físico à normalidade. Uma extraordinária operação algébrica derivada da misericórdia divina, onde o mais anulou o menos.

Más aparências

Outra situação registrada por André Luiz — no livro Nosso Lar — envolve pobre mulher, que pediu socorro à Colônia Nosso Lar. Sua figura era digna de comiseração:

Filhos de Deus, dai-me abrigo à alma cansada. Onde está o paraíso dos eleitos, para que possa fruir a paz desejada?

Imediatamente, André intercedeu por aquele espírito necessitado de ajuda. No entanto, foi alertado por Narcisa, sua instrutora, que aquela alma ainda não estava em condições de receber o acolhimento em Nosso Lar.

Rodeada de pontos negros, denotava projeção mental dos que transgrediram a lei divina, e ainda não demonstram predisposição para sua reforma íntima. Infelizmente, aquela pobre mulher ainda não podia ser socorrida na Colônia Espiritual.

***

Malformações congênitas, ainda inexplicadas pela ciência humana, são anomalias estruturais ou funcionais geradas por débitos do passado. Eles se acumulam como elementos negativos da alma, que se refletem na fôrma da forma do corpo físico que nasce comprometido.

A única maneira de eliminar essas marcas obscuras é o sofrimento? Não necessariamente. A experiência carnal não é somente o caminho para o crescimento de nossas potencialidades, mas também o filtro que absorve esses elementos sombrios, limpando literalmente a alma de tóxicos passados.

Todos somos tutelados pela divindade. No entanto, quando ocorre a renovação íntima e os caracteres positivos da vida anulam os pontos negativos e renovam a alma, facilitamos o trabalho dos médicos espirituais em direção à cura definitiva.

Hábitos

Os pontos escuros que surgem em nossas almas, quando agimos fora dos padrões evangélicos e comprometemos a vida física e a espiritual, podem ser evitados, se substituirmos os maus hábitos por atitudes positivas. Tudo o que fazemos na vida é baseado naquilo que cultivamos em nosso íntimo.

Se queremos mais saúde, melhor qualidade de vida, harmonia interior, equilíbrio familiar e profissional, temos que nos acostumar ao bem. Quando pensamos, falamos e agimos no bem, habituamo-nos a ele e passamos a viver naturalmente em boa atmosfera íntima.

Todos sabemos o que é lutar contra maus hábitos. Na hora “H”, o piloto automático de nossa programação inconsciente assume o controle e lá vamos nós, de novo, agravar os débitos, não poucos, já gravados em nossa aura espiritual.

É como se tivéssemos duas mentes, uma querendo acertar e outra, qual âncora do passado, querendo nos manter no erro. Paulo de Tarso já mencionava isso ao dizer que não faço o bem que quero, mas justamente o mal que não quero fazer. O pecado que vive em mim é que faz. O apóstolo até admitia que gostava da lei de Deus, mas sentia a força de uma lei que lutava contra o que sua mente aprovava. Não é exatamente o que acontece conosco?

Criando novos hábitos, eles vão substituir os velhos, carcomidos e malcheirosos hábitos do passado. Como fazer isso?

Tomando consciência de que os maiores obstáculos encontram-se em nosso “eu interior”, programados em nosso inconsciente, afetando nosso comportamento e determinando se teremos saúde ou doença física.

Em seguida, precisamos integrar ao nosso comportamento, com urgência, atitudes de polidez, gentileza e educação. Nossa posição social, cultural ou financeira não nos garante bom comportamento. De que lado estamos? Dos rupestres hábitos pré-históricos ou lutando para diminuir nossas más inclinações?

Hábitos salutares substituem velhos reflexos mentais acumulados e nos tiram da rotina das encarnações mais recentes. Não podemos mais agir como embarcações que naveguem ao gosto da correnteza de hábitos a que nos acostumamos, sem resistência.

A evolução exige instituição de novos costumes: perdão, paciência, comedimento, reflexão, fraternidade, serenidade e paciência são instrumentos valiosos que resultarão em novas perspectivas de vida.

Estamos convencidos agora da advertência de Sócrates, cuja sabedoria recomendava que buscássemos as causas da maior parte das moléstias em suas reais origens, isto é, no espírito? A verdadeira felicidade, que agrega paz de espírito com equilíbrio físico, só se adquire cultivando o verdadeiro bem.

O que não pode ser mudado

Há situações em nossa vida que não podem ser modificadas e dores que devem ser suportadas até o fim: a morte de um filho, a amputação de um membro, a doença incurável, a limitação física congênita… Representam castigo de Deus? De modo algum! Protetores espirituais, lídimos representantes do Criador, sentem-se desconfortáveis diante do sofrimento humano, principalmente os de caráter moral.

Provas e expiações a que estamos sujeitos decorrem de comportamento comprometedor de passado recente ou remoto. São débitos cuja cobrança marcamos para a presente vida. Inadmissível ficarmos aborrecidos quando nos cobram dívida na data que marcamos para o resgate.

Nossa vida poderia ser bem melhor sem tantas dificuldades. Por que elas ocorrem? Ocorrem simplesmente porque ainda estamos muito mais próximos da animalidade do que da angelitude. Lamentavelmente, ainda somos orientados mais pelo egoísmo, do que pelo altruísmo.

Em tempos primitivos, a sobrevivência do homem dependia de si mesmo. Esse impulso egoístico o ajudou a transpor o pântano da inconsciência, em direção à planície da razão, como se fosse improvisada embarcação salvadora. Agora na planície da razão, devemos abandonar o velho barco salvador do egoísmo, que ainda levamos nos ombros, e passar a caminhar com os pés direcionados para o bem, motivados pela empatia e pela solidariedade. Este é o momento de nos lembrarmos da sabedoria de São Francisco de Assis, quando afirmou, em oração:

Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado…

Resignação para aceitar o que não pode ser mudado…

E sabedoria para distinguir uma coisa da outra.

Há algo mais difícil do que sentir-se impotente diante de algo que não pode ser mudado? Sim, existe! A inconformação diante de males cármicos inamovíveis, que fazem parte de quadro expiatório, multiplica nossos padecimentos, como se fosse ferida tratada por remédio corrosivo. A inconformação facilmente evolui para a revolta e para o desespero. O que fazer diante desse verdadeiro beco sem saída?

Buscar o tratamento da medicina humana, confiar em Deus e nos espíritos protetores que querem o nosso bem. Mesmo diante das dores que deverão ser suportadas até o fim, a prece jamais é inútil, porque fortalece aquele que ora. O Espiritismo é o tranquilizante de nossas almas, que nos mostra que há razões suficientes para justificar as situações que permeiam nossas vidas.

Alimentemos a certeza de que, aceitando a vontade de Deus e procurando fazer o melhor, estaremos readquirindo a capacidade de ser felizes, mesmo nos momentos mais difíceis da vida.

Um caso de moratória

A maior decepção de Mafalda foi constatar que continuava viva, depois da morte. Os prejudicados por ela, em vida, esperavam-na ansiosamente. Imantados, aproveitaram-se de seus remorsos e disseminaram dores pelo seu abdômen, particularmente em sua bexiga. Mafalda arrependeu-se amargamente de suas más ações e sofreu muito em regiões purgatoriais. Essa atitude, acompanhada do incondicional perdão de suas vítimas, granjearam-lhe alcançar o porto da paz. Tudo certo, então? Estava liberta de suas faltas?

Ocorre que não basta a condescendência alheia. Pela lei da correspondência, não nos livramos imediatamente dos quadros sinistros que nós mesmos criamos. A dívida permaneceu, não obstante o refrigério proporcionado pela benevolência recebida. Sua resignação, todavia, modificou a natureza dos ressarcimentos que devia à justiça divina.

Renasceu com sérios problemas renais, que evoluíram na forma de tumores malignos envolvendo seu aparelho urinário. Percorreu muitos médicos e clínicas, mas o diagnóstico era sempre pessimista. Pouco ou nada poderia ser feito para ajudá-la.

Um de seus médicos, estudioso e espiritualizado, foi inspirado para encaminhá-la ao Oriente, onde deveria tentar sua cura em clínica da China, cujos tratamentos são calcados na fé e no magnetismo.

Como não lhe restava outra solução, Mafalda fez longa viagem na busca dos recursos indicados pelo seu médico e submeteu-se ao tratamento.

Durante aproximadamente três minutos foram aplicados fluidos curativos por intermédio de três magnetizadores, que foram diluindo os pontos escuros do corpo plasmático e, como por encanto, as imagens foram acusando a ablação das células cancerígenas da bexiga da paciente.

Mafalda realmente estava curada?   Podemos contar com os mentores, que agem com poderes magnéticos da medicina espiritual para a recuperação dos que sofrem. Mafalda, porém, somente teria uma cura duradoura se persistisse com seu comportamento de acordo com as leis divinas e promovesse a sua renovação espiritual.

Aliás, não era exatamente isso que Jesus dizia, quando se despedia dos que por ele eram curados?

— Vê que já estás curado; não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior.

Quando substituímos os maus hábitos por atitudes positivas, podemos nos livrar dos pontos escuros que atraímos com comprometimentos pretéritos. Mafalda aliou-se às boas obras. Mais do que isso, mesmo depois de recuperar plena saúde, persistiu no bem e na sua transformação interior.

O que recebemos do universo é fruto do que a ele remetemos. A dor e a doença são avisos de que algo precisa ser mudado em nós. Se queremos bem-estar e felicidade física, precisamos eliminar os pontos tenebrosos de nossas almas.

A história de Adelino

A contabilidade divina é infalível. Nela são registrados todos os acertos e desacertos, por menores que sejam.

Esta é a história de Adelino Correia, que foi relatada por André Luiz em seu livro Ação e Reação.

Adelino está em difícil situação física e duras condições de sobrevivência. Sua pele traz longa faixa de eczema, que lhe acarreta crônico sofrimento. Acanhado e tristonho, tem a marca da humildade. Na trajetória atual, fez amigos espirituais que, incessantemente, o protegem e intercedem por ele.

— Venho rogar socorro em benefício da saúde de Adelino. Ultimamente a dor das feridas não cicatrizadas estão incomodando-o mais fortemente — rogou doce velhinha.

— Dois de nossos médicos o vêm assistindo atenciosamente — respondeu o protetor espiritual. Esteja tranquila. Correia, em breve, estará plenamente restaurado.

Na atual vida física, a mãe cuida de Adelino e de seus três filhos, pois a esposa o abandonou.

***

Qual a razão de tanto sofrimento?

Na vida passada, Adelino enamorou-se de sua madrasta, não obstante todo o carinho que o pai lhe devotava. Impelido pela paixão, queimou seu pai no leito, com a cumplicidade de dois capatazes e da madrasta. Felizes para sempre? Negativo!

Do outro lado da vida, seu pai passou a persegui-lo durante cinco anos seguidos. Vencido pelo remorso e pelo domínio paterno — cuja morte recapitulava incessantemente —, Adelino contraiu grave doença dermatológica, que o queimava sob chamas ocultas e o levou à morte, com a pele em chagas. Quando morreu, esperava-o o pai para o acerto de contas.

Mais de uma década mais tarde, depois de passar por organização espiritual, Adelino disciplinou-se, renovou-se e renasceu inclinado à fé religiosa.

A filha é a antiga madrasta. Os filhos adotivos são os comparsas do passado. A enfermidade deveria cobrir todo o corpo, mas foi limitada para lhe dar condições de trabalho.

Está agora pagando suas culpas, mas, com o alívio possível, pois, ajudando outras criaturas, está reduzindo seus débitos.

Antes de reclamarmos, alegando vitimização injusta, convém consultar o íntimo. Lá encontraremos os erros do passado, dos quais só poderemos no libertar pela persistência no bem e com irrestrita confiança em Deus.

Se nos dispusermos à aceitação das leis da vida, a moeda do sofrimento poderá ser substituída pelas moedas do amor, do trabalho e da generosidade. Dessa forma, amenizaremos as dores atuais, provocadas pelas consequências do passado, dentro, sempre, da matemática divina dos méritos conquistados.

Resignados ou rebeldes?

Pessoas reagem de formas diferentes diante da dor, não obstante estarem passando por penúrias muito semelhantes e condições similares. Sabemos que a dor é subjetiva, isto é, cada um tem seu nível de resistência. O pesar de um não é sentido da mesma maneira por outro. As sensibilidades são distintas.

Na Doutrina Espírita encontramos mais elementos para complementar essa explicação. Podemos estar submetidos a expiações ou provas. Espírito em provação participa das escolhas e da intensidade de sofrimentos que vivenciará na Terra. Espíritos em expiação, diferentemente, não têm essa consciência e recebem seus sofrimentos goela abaixo, isto é, compulsoriamente.

Existem alternâncias de comportamentos. Os espíritos em expiação podem ter momentos de resignação. Da mesma forma, espíritos em provação podem derrapar para a revolta ou, não raramente, permitir o amornamento de suas crenças.

Pessoas que não aceitam a situação que a vida lhes está impondo são espíritos em expiação, que ficam se debatendo durante o tempo todo. Inconformados, querem voltar ao passado de qualquer maneira, quando detinham a fama e o poder.

Como sair do círculo vicioso do mal? Cada um de nós passa por situações difíceis porque as planejou ou porque nos foram impostas, mas o fato é que ninguém sofre indevidamente.

Por outro lado, ao relembrar a primeira epístola de Simão Pedro, em que ele diz que o amor cobre uma multidão de pecados, tomamos consciência de que Deus nos permite, na sua infinita bondade, que substituamos a moeda da dor pela moeda do amor, que se exprime na prática do bem, na equação “mais amor, menos dor”. Se não há amor, a dor aumenta. Na contabilidade divina, se está registrado que exercitamos o amor na prática do bem, uma parte do débito já foi compensada.

Se ainda estamos distantes da condição de verdadeiros cristãos e do ideal regenerativo, nada impede que entremos individualmente no mundo de regeneração. O mundo pode ainda estar em provas e expiações, no entanto eu poderei, intimamente, entrar em regeneração, desde que procure combater o egoísmo, pois a partir daí iniciarei a sublime transição da situação de expiação para provação, ensaiando amor e fraternidade. E essa transformação depende exclusivamente de cada um de nós.

Um teste: expiação ou provação?

Quem sofre mais? Espíritos em expiação ou em provação? Em princípio, poderíamos afirmar que os renitentes, que se debatem, e dão murros em pontas de facas e se recusam a aceitar as dores, as quais surgem exatamente em contrapartida aos erros do passado, agravam seus débitos e sofrem mais.

Melhor seria seguir o conselho de Santo Agostinho e, periodicamente, fazer uma avaliação de nossa vida. Vejamos este teste, criado por Richard Simonetti, para saber a quantas andam a nossas atitudes e descobrir se ainda estamos em provação ou expiação.

Estamos aqui em provação ou expiação? Qual é a nossa posição? Vamos ao teste, de várias proposições, sendo a alternativa “A” correspondente à situação de espírito em provação e a alternativa “B” à de espírito em expiação.

  • – Diante da morte de um ente querido:

A – Seja feita a vontade de Deus.

B – Por que Deus fez isso comigo?

  • – Diante de uma doença grave:

A – Deus me dará forças.

B – Não suporto esse sofrimento

  • – Diante da perspectiva da própria morte:

A – Confio-me aos cuidados dos bons espíritos.

B – Resistirei até o último suspiro.

  • – Diante da dificuldade de uma prova escolar:

A – Estudarei mais.

B – Farei uma cola.

  • – Diante de um desastre financeiro:

A – Começarei uma vida nova.

B – A minha vida acabou.

Se a maior parte das nossas respostas foi com a alternativa “A”, maravilha, somos espíritos em provação enfrentando com dignidade as nossas dores, problemas e dissabores. No entanto, se a maior parte das nossas respostas foi com a alternativa “B”, a situação está difícil, pois estamos diante de expiação não aceitável, que pode complicar ainda mais a nossa vida.

É preciso considerar, contudo, que o indivíduo pode estar em provação e de repente enveredar por um desvio, ou pode estar em expiação e chegar à conclusão de que precisa mudar o rumo da sua vida e fazer alguma coisa melhor. Por isso, o melhor mesmo é nos apegarmos a Deus e praticarmos todo o bem possível, para que soframos menos e persistamos no caminho traçado pela divindade. Daí, talvez, estaremos nos candidatando ao retorno ao plano espiritual, em melhores condições do que as de quando aqui chegamos.

Um nobre exemplo

Como adquirir créditos junto à matemática divina? Eles estão acessíveis mesmo aos que muito desrespeitaram a justiça suprema? No planejamento de uma nova encarnação o espírito pode pleitear a compensação da moeda da dor pela moeda do amor?

Aos que se munem dos propósitos de dignidade, tolerância, retidão de conduta, perdão e condescendência, jamais faltam oportunidades para aplicação dos valores positivos, que vão, gradativamente, reduzindo as máculas negativas que amealhamos em tempos de violação dos preceitos sublimes.

Quando Christo Brand tornou-se carcereiro da penitenciária Robben Island, África do Sul, em 1978, ficou sabendo que lá existia um perigoso terrorista: Nélson Mandela, que lá permaneceu durante 27 anos, sob o regime do apartheid.

Esses anos de convivência aproximaram-nos e transformaram a relação dura entre um prisioneiro e um agente penitenciário em amizade, que se prolongou até o fim da vida do ex-presidente sul africano.

O relacionamento entre ambos se consolidou por um fato marcante. Winnie Mandela, então esposa de Nélson, levou a neta para que ele a conhecesse. Foi impedida de mostrar-lhe a criança. No entanto, Brand, em conivência com seu supervisor, criou um curioso estratagema para que o prisioneiro tivesse contato com a neta. A pretexto de segurar a criança, enquanto Winnie se preparava para visitar Mandela, Brand trancou-a, por engano, num cubículo, em que ficou isolada. Enquanto isso, colocou Zoleka nos braços de Mandela e, em seguida, levou-a de volta para a avó.

Quando Mandela, em 2010, celebrou o 20º aniversário de sua libertação, convidou Christo Brand para sentar-se ao seu lado. Esse gesto de grandeza correu o mundo, sensibilizou a mídia mundial e é um dos maiores exemplos de dignidade de que se tem notícia, nos tempos atuais. Um homem que passou 27 anos numa prisão mostrou, mesmo com os poderes de um presidente, que não guardava mágoas de seu passado e fez questão de agradecer, publicamente, pela amizade selada com seu ex-carcereiro.

Se queremos amenizar nossas dores e tormentos, precisamos imediatamente aderir aos propósitos do bem e da dignidade. Quando imitamos nobres atitudes, como a de Mandela, habilitamo-nos ao bem e à proteção do Alto.

Pessoas com essa imensa grandeza, que não guardam mágoas, que continuam acreditando na empatia, na solidariedade e no respeito à vida e ao semelhante, são aquelas que conseguem limpar-se de máculas antigas e dão vigorosos passos em direção ao equilíbrio físico e espiritual.

Magnífica presença

A harmonia excelsa está presente em toda a obra universal. Espraia-se pela natureza, em cada um de seus detalhes, e por toda a criação macrocósmica e microcósmica. A sequência da proporção áurea, constatada pelo matemático italiano Leonardo Fibonacci, pode ser encontrada na disposição de um galho, nas folhas, no cone da alcachofra, no abacaxi, no desenrolar de uma samambaia, na concha de um caramujo, no rabo de um camaleão, nas presas de um elefante, no miolo do girassol ou nas espirais de uma pinha.

As mesmas proporções, ainda que de forma intuitiva, foram aplicadas pelo homem, por exemplo, na estética do templo grego Parthenon, nos blocos das pirâmides do Egito ou mesmo na razão entre as estrofes maiores e menores do épico poema de Homero, como, na atualidade, são utilizadas na análise dos mercados financeiros, na ciência da computação e na teoria dos jogos.

O mesmo padrão expressa-se no extraordinário mecanismo que rege a evolução do espírito. Esse progresso integra-se à harmonia universal.

Com o clareamento da alma surgem forças que equilibram os organismos. Por outro lado, a prática do mal desregula esse extraordinário mecanismo, lesa a consciência e determina o surgimento de distúrbios e mutilações.

Iniciamos esta série de textos indagando o porquê do sofrimento humano. Ponderamos que talvez o homem não estivesse procurando no lugar certo a causa de seus sofrimentos. Com efeito, de acordo com os débitos contraídos, surgem campos propícios ao desenvolvimento de vírus e bactérias, que podem causar toda sorte de padecimentos.

Por outro lado, a construção divina dotou os organismos da faculdade de criar defesas, anticorpos e imunidades que protegem o ser humano contra os mais severos ataques que o acometem.

Como potencializar as defesas, sejam elas originadas da matéria ou da espiritualidade?

Por intermédio da oração, da disciplina, da resistência mental que a boa consciência proporciona, pela disposição e trabalho em favor do próximo e pelo cumprimento dos deveres com os quais nos comprometemos.

Tomemos parte desse divino concerto lógico e não mais precisaremos de sofrimentos para balizar nossos comportamentos. Confiando em Deus, cultivando a espiritualidade e fazendo todo o bem que estiver ao nosso alcance, atrairemos preciosos recursos a nosso favor.

Jamais poderemos esquecer que o bem é o verdadeiro antídoto do mal.

 

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